Uma das características valorizadas nas empresas de alta performance é conseguir entregar o produto na mão do cliente em um prazo recorde. Mas, ao olhar para o cenário e constatar que 60% das cargas comerciais brasileiras são transportadas em rodovias, tratando-se de um país em que pouco mais de 10% das estradas são pavimentadas, segundo dados do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), é, no mínimo, contabilizar uma grande oneração no processo.
De acordo com Alexandre Horta, sócio sênior da GS&MD – Gouvêa de Souza, no Brasil, 15% do valor de qualquer carga corresponde ao frete, enquanto, nos Estados Unidos, o número é de 6,5%.
Contudo, existem algumas possibilidades para reduzir o impacto dos gastos com transporte nos custos do processo. Uma alternativa muito utilizada lá fora e que começa a ser vista com bons olhos por aqui é o sistema de frotas compartilhadas. Por meio dele, um mesmo caminhão pode carregar produtos de marcas diferentes das fábricas ou dos centros de distribuição e levar às lojas.
A Ambev é uma das empresas que segue esse modelo desde 2009 e já conseguiu baratear em 50% os gastos com logística nas rotas abraçadas pelo projeto. Criado não só para reduzir custos, ele ainda traz benefícios ambientais por diminuir a emissão de gás carbônico (CO2) e o consumo de diesel, melhorando o tráfego nas estradas. A empresa procurou parceiros que não só topassem fazer parte do sistema, mas também fossem logisticamente viáveis. Com isso, os caminhões que voltariam vazios depois de abastecer os centros de distribuição e fábricas da Ambev passaram a transportar a mercadoria das empresas parceiras.
Uma delas é a Unilever, que, após o compartilhamento da frota, utiliza o veículo que já foi carregado na Ambev de Jundiaí, passou pela filial de Goiânia e lá saiu carregado da Unilever a Louveira, recomeçando o circuito em Jundiaí.
Na opinião de Philippe de Grivel, diretor de supply chain da LACIPC (Latin American and Caribbean Subway Franchisee Organization), o maior entrave para aderir ao formato é uma cultura de protecionismo empreendedor. “Lá fora, as pessoas já evoluíram em relação a isso, porque, ao ter seu caminhão, é necessário investir e ter um ativo destinado a isso. Então, o varejista acaba não investindo em lojas, em inovação e na marca em si”, aponta. Ele ainda indica o modelo de frotas compartilhadas para varejistas de alimentação em shopping centers, já que todos estão localizados em um mesmo local. Os caminhões poderiam trazer mercadorias de várias bandeiras de uma vez só.
Alimentação, um capítulo à parte
E quando a mercadoria transportada é um alimento? Por serem perecíveis, eles pedem outros tipos de cuidados, principalmente os refrigerados. Para otmizar o processo, Philippe revela que eles trabalham com várias gamas de temperatura. “Tentamos transformar um produto de congelado em refrigerado ou de refrigerado em congelado para alongar sua vida útil, sem perder a qualidade”, completa.
Essa prática é comum nas lanchonetes Subway, pois, de acordo com Roberta Damasceno Michelim, gerente nacional da rede, toda a compra e distribuição de suprimentos é feita através de um único distribuidor logístico para as mais de 300 unidades que a rede pretende contabilizar até o fim deste ano. “A Subway oferece uma tabela de fórmulas, equipamentos específicos e um rígido controle de temperatura e qualidade para evitar perdas ou desperdícios”, enfatiza. Além disso, há outras atitudes simples e capazes de reduzir os custos logísticos, como eliminar ao máximo o yso de embalagens nos produtos. “Tudo o que você consegue fazer em relação ao produto acaba causando um efeito dominó dentro da cadeia”, completa Philippe.
Fonte: Revista Mercado & Consumo, ed. 03. Para assinar a revista, clique aqui.