Ninguém consegue passar adiante o que não viveu sem o risco de se tornar um impostor. Quando Daniel Ramirez fundou, em 2004, o Grupo Azevedo Ramirez (GAR), em homenagem aos seus pais, já tinha trabalhado como diretor de teatro, ensinando atores a despertarem seu potencial para viverem com fidelidade e paixão a vida de seus personagens. Qualificou-se para migrar das artes cênicas para o mundo corporativo. E, em 2012, passou por uma crise profissional e pessoal em que perdeu tudo, exceto a família.
A segunda fase do GAR começou com a reconstrução de seu fundador. Superar crenças, enxergar oportunidades, abrir mão, buscar novos caminhos. Todos esses aprendizados, depois de se materializarem em jogos corporativos de alta performance, patenteados por Ramirez, vêm sendo compartilhados com empresas, lideranças e colaboradores.
Para celebrar duas décadas de empresa, o GAR lançou um selo comemorativo e um manifesto na primeira página do site: “Nossa jornada, repleta de inovação e gamificação, redefiniu o que significa ser um líder, um aprendiz e um inovador. Enfrentamos o convencional com coragem, criando momentos que não apenas ensinam, mas também inspiram e transformam”, pontua o texto.
Além disso, o GAR inicia a sua terceira fase. Ramirez está assumindo mais compromissos como palestrante, está desenvolvendo um protótipo para um jogo que poderá ser aplicado online e vislumbra mudanças no modelo de treinamento que desenvolveu. Mas, o novo desenho da empresa será traçado ao longo deste ano.
A prática
O trabalho de Daniel Ramirez continua o mesmo, embora o cenário tenha se modificado, a atividade tenha se tornado mais complexa e o número de envolvidos seja bem maior.
Um dos jogos mais solicitados é o da roda-gigante. “As pessoas se encantam”, revela o criador. Cada equipe recebe cestos com peças de várias cores e aos membros cabe a tarefa de montá-la. Depois de pronta, precisam posicioná-la em pé. E, claro, tem um tempo determinado para isso.
Durante a realização da dinâmica, algumas pessoas são resistentes, não aceitam a proposta ou não conseguem trabalhar em equipe. Outras, muito mandonas, outras, querem ganhar a qualquer preço e outras ainda podem permanecer apáticas. São inúmeras possibilidades. Mas todos esses comportamentos são absorvidos pelo facilitador da atividade. Embora se trate de um jogo, a roda-gigante é uma metáfora para elucidar as dificuldades que a empresa ou líderes querem entender e resolver.
“A gente desperta o potencial humano”, afirma Ramirez. “E eu faço isso usando a gamificação. As pessoas se revelam, participam da dinâmica atuando como fazem no trabalho. Depois, jogo luz, consciência, e todos veem comportamentos e hábitos que enriquecem a corporação e o desenvolvimento pessoal e os que são prejudiciais”, explica. “Cabe à empresa e à cada pessoa fazer os ajustes necessários”, complementa.
Como funciona
Nessas duas últimas décadas, Ramirez esteve em sala, aplicando jogos em corporações mais de 2 mil vezes. Segundo Ramirez, em média, são 150 a 200 aplicações por ano, impactando até 1.500 pessoas todos os meses. O seu trabalho visa fortalecer o laço com a empresa, despertar potenciais, trazer consciência a hábitos nocivos ao trabalho, ao time e ao próprio indivíduo e promover uma melhor integração entre as áreas, para resumir os principais tópicos.
Ao longo de sua experiência em formação e desenvolvimento humano, Ramirez percebeu que os jogos desinibem as pessoas. Sua passagem pelo teatro mostrou como as “brincadeiras” liberam a espontaneidade de cada pessoa. “No teste, ela tenta manipular, fica tensa, preocupada, mas no jogo, age exatamente como age no dia a dia. E aí cabe a ela e a empresa fazerem algo com isso”, analisa.
O CEO e fundador do GAR criou, até agora, cinco jogos, cada um deles com um objetivo específico para trabalhar nas principais dores das organizações.
A roda-gigante é o mais pedido, mas é na conversa com a empresa que ele define se a atividade é a que melhor se encaixa com o propósito da companhia. “O que precede a escolha da dinâmica é o diagnóstico. É preciso trabalhar nas causas dos problemas, não nas consequências”, comenta. Ou seja, nem sempre o que a organização quer é o que ela precisa. A montagem da roda-gigante, por exemplo, atua nas crenças limitantes e na definição clara do objetivo de uma equipe, além da não-competição entre os participantes.
No entanto, há empresas que necessitam integrar os setores, focar no cliente, entendendo melhor suas demandas, e desenvolver eficiência operacional. Nesse caso, o jogo Caravelas é o que mais se ajusta a esse propósito.
Com um nome bastante intrigante, o Transilvânia é ideal para desenvolver gestão da liderança e integração entre áreas.
A aplicação do Chicago visa experimentar habilidades de planejamento e troca de informações entre as áreas.
E o jogo Fazedores de Arte atua na integração e no fortalecimento entre companhia e equipe. “É também uma celebração”, conta Ramirez, relembrando como esta ferramenta emociona executivos e engaja a equipe. “O resultado final, que eu não vou contar aqui, é surpreendente. Houve um CEO de uma grande empresa que não conseguiu falar com seus funcionários após a dinâmica de tão emocionado”, lembra.
Ao ser questionado sobre o que esperar dos próximos 20 anos do GAR, Daniel Ramirez cita o manifesto que celebra essa trajetória com sorriso largo: “Olhamos para o futuro com a mesma curiosidade e paixão que nos guiaram desde o início. Estamos comprometidos em fazer com que cada indivíduo se veja como protagonista de sua própria história, um líder capaz de navegar pela mudança com autenticidade e propósito. Comemoremos o ontem, vivamos o hoje, sonhemos o amanhã. Isso é GAR. Isso é revolução, isso é vida. Revolução e vida”.
Com informações de Mercado&MediaLabs
Imagem: Arquivo pessoal