O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) negou o pedido de recuperação judicial da SouthRock Capital, o fundo de investimentos que opera as marcas Starbucks, Subway e Eataly no Brasil. A ação, no valor de R$ 1,8 bilhão, deu entrada na 1ª Vara de Falências da Justiça de São Paulo nesta terça, 31. A empresa confirmou a negativa para liminares do pedido e disse que “irá recorrer desta decisão inicial e não definitiva”.
Os pedidos liminares foram todos negados pelo juiz Leonardo Fernandes dos Santos, que nomeou um administrador judicial para periciar e analisar a documentação apresentada com urgência antes de reconsiderar o pedido de falência. Na sentença, o juiz determinou a necessidade de constatar a real situação de funcionamento da empresa e de comprovar a regularidade material dos documentos apresentados.
Sobre a exploração da Starbucks, o juiz informou que além de, possivelmente, não ser o juízo competente, uma vez que o conflito de interesses ocorre com a matriz norte-americana, as alegações apresentadas foram consideradas genéricas e o contrato de licença não estava anexado ao pedido. Também foi indeferida a solicitação de garantias de dívidas junto aos bancos.
Em nota, a SouthRock informou que o pedido de recuperação judicial visava “proteger financeiramente algumas de suas operações no Brasil atrelado a decisões estratégicas para ajustar seu modelo de negócio à atual realidade econômica”. Ainda segundo a declaração, os ajustes mencionados incluem “a revisão do número de lojas operantes, do calendário de aberturas, de alinhamentos com fornecedores e stakeholders, bem como de sua força de trabalho tal como está organizada atualmente”.
A Mercado&Consumo pesquisou endereços da Starbucks em São Paulo na internet e comparou com a lista de estabelecimentos em funcionamento no site da empresa. No total, 20 unidades catalogadas pela reportagem não foram encontradas no site da Starbucks Brasil.
Até o momento, a reportagem entrou em contato com as unidades da Brascan e do Morumbi Shopping e foi informada pelos administradores que as cafeterias não estão operando hoje. No Morumbi, não integra a lista de cafeterias em funcionamento apesar de a unidade do piso térreo abrir normalmente hoje. No aplicativo iFood, somente a unidade da Liberdade está disponível para delivery. Nas redes sociais, o último post da empresa recebeu lamentações e críticas de seguidores questionando o fechamento de várias unidades entre São Paulo e Rio de Janeiro.
A Associação de Bares e Restaurantes (Abrasel) lamentou a situação vivida pela SouthRock e afirmou que se solidariza com o fundo. “A situação do grupo, no entanto, não nos surpreende, visto que o setor de bares e restaurantes está hoje imerso em um ambiente onde predominam as dificuldades”, destacou, em nota, a entidade.
Em sua última pesquisa, realizada em setembro, a Abrasel relatou que 24% dos bares e restaurantes operam sem lucro, um aumento de 5% em relação ao estudo anterior, feito em julho. O estudo realizado pela Abrasel também aponta que as quedas nas vendas (82%), redução do número de clientes (67%) e dívidas com impostos e taxas (43%), dívidas com empréstimos (42%) e custos dos insumos (36%) estão entre as principais razões para os resultados negativos do setor.
“O momento vivido pela SouthRock reflete a realidade de inúmeros negócios de alimentação fora do lar tanto no ápice da pandemia quanto no processo de recuperação do mercado”, analisa a CEO da consultoria Gouvêa Foodservice, Cristina Souza. “Acompanhamos os dados de tráfego e faturamento do setor e, infelizmente, apesar de um contexto de redução das taxas de desemprego e aumento de renda média, o olhar de prioridade para consumo de alimentos preparados fora de casa pelo consumidor ainda é controlado e tem impactado em sua frequência, portanto, no tráfego, o que tem dificultado nesse exato momento a tração tão esperada por todos nós do setor.”
A empresa
A SouthRock é um fundo de investimento e opera, além da Starbucks, a Subway e a Eataly. A empresa entrou com pedido de recuperação judicial na 1ª Vara de Falências da Justiça de São Paulo na terça-feira, 31. As dívidas são de R$ 1,8 bilhão.
Em nota, informou que as dificuldades atuais refletem “os desafios econômicos no Brasil resultantes da pandemia, a inflação e a permanência de taxas de juros elevadas” e que o pedido de recuperação judicial visa a “proteger financeiramente algumas de suas operações no Brasil atrelado a decisões estratégicas para ajustar seu modelo de negócio à atual realidade econômica”. Ainda segundo a declaração, os ajustes mencionados incluem “a revisão do número de lojas operantes, do calendário de aberturas, de alinhamentos com fornecedores e stakeholders, bem como de sua força de trabalho tal como está organizada atualmente”.
Imagem: Shuterstock