Na missão de alcançar uma inflação mais próxima do centro da meta em 2023, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a taxa Selic em 0,50 ponto porcentual, de 13,25% para 13,75% ao ano, voltando ao patamar de janeiro de 2017. O BC deixou ainda a porta aberta para mais um reajuste de menor magnitude na próxima reunião. Com isso, em setembro, a Selic pode chegar a 14% ao ano – isso a dez dias do primeiro turno das eleições
Foi o 12º aumento consecutivo do juro básico desde março de 2021, no que já é o ciclo de aperto monetário mais longo da história do Copom, para tentar debelar uma inflação alta, disseminada e persistente. A Selic subiu 11,75 pontos porcentuais desde a mínima histórica de 2,0%, o maior choque de juros desde 1999.
No comunicado, o Banco Central afirmou que “o ambiente externo mantém-se adverso e volátil” e que a “inflação ao consumidor continua elevada”. O comitê disse ainda que “avaliará a necessidade de um ajuste residual, de menor magnitude, em sua próxima reunião” – ou seja, de 0,25 ponto porcentual. A próxima decisão será no dia 21 de setembro.
O aumento do juro básico da economia reflete em taxas bancárias mais elevadas, embora haja uma defasagem entre a decisão do BC e o encarecimento do crédito (entre seis meses e nove meses). A elevação da taxa de juros também influencia negativamente o consumo da população e os investimentos produtivos.
Por outro lado, aplicações em renda fixa, como no Tesouro Direto e em debêntures (títulos de empresas), passam a render mais.
A decisão desta quarta-feira, 3, era plenamente esperada pelo mercado financeiro, já que o BC afirmou, após subir a Selic em 0,50pp no Copom de junho, que antevia um novo ajuste de igual ou menor magnitude para a reunião deste mês.
Desde então, a ininterrupta deterioração das expectativas de inflação para 2023, os dados econômicos mais fortes e as ofensivas do governo ao teto de gastos (regra que atrela o crescimento das despesas à inflação) em ano eleitoral fizeram as apostas convergirem para 0,50pp.
Apesar das recentes medidas tomadas pelo governo terem reduzido o peso de combustíveis e da energia elétrica na inflação deste ano, com prováveis deflações no IPCA em julho e agosto, as projeções para 2023 seguem em alta. Como leva tempo para que os efeitos da política monetária sejam sentidos na economia, a nova alta de juros mira a inflação do próximo ano.
Para 2023, a meta de inflação foi fixada 3,25%, e será considerada formalmente cumprida se oscilar entre 1,75% e 4,75%. Na semana passada, porém, o mercado estimou que a meta será novamente superada no próximo ano, com a inflação atingindo 5,33%.
De 51 instituições financeiras consultadas pelo Projeções Broadcast, 49 esperavam alta de 0,50pp dos juros básicos, para 13,75%. Uma casa estimava aumento de 0,25pp, a 13,50%, enquanto uma projetava a manutenção do patamar de 13,25%.
Juro real
Com o novo aumento da Selic, o Brasil continua a ter a maior taxa de juro real (descontada a inflação) do mundo, em uma lista com 40 economias. Cálculos do site MoneYou e da Infinity Asset Management indicam que o juro real brasileiro está agora em 8,52% ao ano, mais que o dobro do segundo lugar da lista, o México (4,20%).
Em terceiro lugar no ranking que considera as economias mais relevantes, aparece a Hungria (3,50%). A média dos 40 países avaliados é de -1,89%.
Risco de alta da inflação
Enquanto os principais candidatos à Presidência da República nas eleições deste ano prometem tornar permanente o aumento do Auxílio Brasil para R$ 600 para além de dezembro, o Banco Central alertou nesta quarta-feira, 3, que a extensão dessa medida aumenta ainda mais o risco de alta da inflação no próximo ano.
“O Comitê pondera que a possibilidade de que medidas fiscais de estímulo à demanda se tornem permanentes acentua os riscos de alta para o cenário inflacionário”, ressaltou o comunicado do Copom desta quarta. Tanto o presidente Jair Bolsonaro, quanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometem manter o pagamento maior do benefício em 2023, ainda que não haja espaço orçamentário para isso.
Por outro lado, o BC ponderou que o aumento do risco de desaceleração da economia global também acentua os riscos de baixa na inflação para o próximo ano. “O Comitê avalia que a conjuntura ainda particularmente incerta e volátil a conjuntura ainda particularmente incerta e volátil requer serenidade na avaliação dos riscos”, completou o documento.
O cenário de riscos do Copom continua com fatores de risco nas duas direções. Do lado de uma inflação maior que a projetada, está a maior persistência das pressões inflacionárias globais e justamente a incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do País e estímulos fiscais adicionais que impliquem sustentação da demanda agregada.
Já do lado de uma possível inflação mais baixa que a estimada, está uma possível reversão – ainda que parcial – do aumento nos preços das commodities e a já citada desaceleração da atividade econômica mais acentuada do que a projetada.
O Copom argumentou ainda que as projeções de inflação para 2022 e 2023 estavam contaminadas pelos impactos das alterações tributárias sobre combustíveis e energia elétrica aprovadas no mês passado. Por isso, o BC optou por dar mais ênfase à inflação acumulada em doze meses no primeiro trimestre de 2024. Segundo o colegiado, esse marco temporal “reflete o horizonte relevante, suaviza os efeitos diretos decorrentes das mudanças tributárias, mas incorpora seus impactos secundários sobre as projeções de inflação relevantes para a decisão de política monetária”.
Com informações de Estadão Conteúdo (Thais Barcellos e Eduardo Rodrigues).
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