O cenário mundial de vacinação, o otimismo americano com a reabertura e a aceleração dos calendários de vacinação nos Estados mais populosos do Brasil cria um ambiente que permite aos empresários do setor de alimentação fora do lar olharem com maior otimismo para o mercado.
Segundo dados da Cielo, o mês de maio de 2021 apresentou a melhor performance de recuperação do mercado desde o início da pandemia. Comparando maio/2019 (pré-pandemia) com maio/2021, a diferença é de -27,6% do faturamento do setor. No auge da pandemia, esse número foi de -73% (abri/2020), portanto, é uma recuperação muito importante.
Com a aceleração da vacinação no País, com as restrições abrandadas em termos de horários de funcionamento dos estabelecimentos, uma vez, que inclusive população mais jovem, também está vacinada e seguimos com o ciclo da terceira dose de proteção. Além disso, os cientistas com dados e informações mais consistentes sobre variantes e como seguir nesse momento.
Outro dado é que estamos no verão, fator importante para redução dos casos de doenças respiratórias especialmente nas regiões Sul e Sudeste. O bom tempo é um impulsionador para as pessoas desejarem consumir fora de casa e promoverem reuniões com amigos e familiares. Porém, nesse momento, vivemos um cenário de crescimento de casos de gripe por H3N2, que volta a preocupar, mas, ainda sem afetar o setor.
Se me permitem fazer uma licença poética neste artigo, eu recomendaria aos empresários do setor férias nesses meses de julho e agosto. Vivemos um período muito complexo, repleto de desafios, decisões difíceis e dilaceração de muitos negócios. Descansar fisicamente permite preparar-se para esse momento de recomeço.
Destaco alguns tópicos que merecem atenção em ação, conexão com os clientes, comunicação ou planejamento nesse processo de recuperação do setor:
- Mantenha-se digital: abastecimento, atendimento, pagamentos, pesquisas, reservas de mesas; não perca o que já avançou na pandemia, prepare-se para continuar digitalizando-se.
- A inflação de alimentos segue em crescimento, porém fora do lar ela é menor do que dentro do lar. É válido analisar como uma oportunidade de atração para os clientes. Atenção à recomposição de preços e repasse aos clientes.
- É necessário otimizar seus processos de gestão para fazer a manutenção da venda digital conquistada com o mesmo nível de qualidade. Segundo os especialistas da Mosaiclab, em 2022 o delivery voltará a crescer a dois dígitos. O faturamento do canal digital pode ser um diferencial na recuperação do mercado e, especialmente do seu negócio.
- Retomar o atendimento em salão, reforçando diferenciais ligados à experiência, dará aos clientes mais motivos para voltarem ao estabelecimento. Capriche!
- Um constante desafio do setor é mão de obra. Quando vemos o índice de desemprego em 14%, é possível imaginar que haverá “funcionários sobrando” no mercado. Infelizmente, não é totalmente verdade. Muitas pessoas estarão há 18 meses, ou mais, fora do mercado de trabalho. Assim, o investimento em treinamento, alinhamento ao propósito da empresa, retomada de ritmo no atendimento serão desafios a serem contornados.
- A decisão de contratação, recontratação ou uso de plataformas de uberização de mão de obra deve fazer parte do modelo de replanejamento do novo atendimento ao consumidor e das despesas do restaurante.
Encerro este artigo com uma mensagem sobre a segurança dos alimentos e segurança dos clientes. A possível flexibilização, a exemplo do que ocorreu recentemente no mercado americano, não deve estimular o abandono dos processos de segurança intensificados no preparo, higiene do ambiente e proteção dos clientes.
Estamos em um momento único do foodservice. O que poderia ter sido uma grande lacuna tornou-se um período de máximo aprendizado e evolução do setor. Discipline-se para seguir para o próximo nível! A pandemia não acabou, o vírus não será eliminado. Teremos uma situação controlada. Portanto, vamos seguir fazendo o nosso melhor.
Um abraço,
Cris
Este artigo foi publicado originalmente na Mercado&Consumo em 22 de junho de 2021.
Cristina Souza é CEO da Gouvêa Foodservice
Imagem: Envato/Arte/Mercado&Consumo