O tema é recorrente, mas precisa ser melhor compreendido e debatido pois a interpretação equivocada dos indicadores atuais de mercado está prolongando a recessão, aumentando o desemprego, reduzindo renda e voltou a impactar negativamente a confiança do consumidor que parou de evoluir, como vinha acontecendo desde Abril deste ano.
Depois de atingir sua pior marca histórica desde que começou a ser monitorada em 2005, a Confiança do Consumidor vinha crescendo mês a mês como resultado da melhoria da percepção sobre o futuro. Neste mês de Novembro voltou a cair e tudo indica poderá cair novamente em Dezembro por conta de um certo desencanto e preocupação com o futuro, mais do que o sentimento com relação ao presente.
As razões diretas para essa queda envolvem a redução real da renda, a alta inflação, apesar de declinante, o nível de desemprego que atinge especialmente as mulheres, os jovens e as populações do Nordeste e o desencanto com o quadro político que se renova diariamente em sua capacidade de gerar sobressaltos e preocupações.
E essa queda de Novembro ocorreu antes que o Congresso, na calada da noite, atentasse contra um bom senso mínimo ao tentar passar medidas para aliviar a barra dos envolvidos em corrupção, tentando asfixiar as ações em andamento nesse processo purgatório que vive o Brasil.
Mas existe espaço para a reversão parcial desse quadro que envolve a espiral de desencanto que começa a se formar pela ativação do consumo, contra o interesse e excesso de preocupações do sistema financeiro.
Temos insistido que temos no país um dos mais modernos e controlado sistemas financeiros do mundo, que ajudou o país a atravessar períodos difíceis da economia global. Mas que é atavicamente medroso e ainda estimulado por taxas de juros das mais altas do mundo e um nível de concentração também dos mais altos que desestimula a competitividade. E momentaneamente privilegiado pelo engessamento da alternativa competitiva dos bancos públicos.
Existe espaço para a ativação da economia pelo aumento do consumo, sem protecionismo, desoneração ou estímulos artificiais, exclusivamente pela revisão das políticas de análise e concessão de crédito para as famílias, redução cautelosa das taxas de juros e dos spreads bancários.
Os níveis atuais de inadimplência, medido pelos dados do Banco Central, estão em seus patamares históricos, sem perspectiva de crescimento de curto prazo, e o comprometimento da renda, por conta do endividamento das famílias, quando excluído o endividamento imobiliário, tem se reduzido sistematicamente desde 2013.
Quando acrescentamos o endividamento imobiliário para formar o endividamento total este também apresenta tendência de queda nos últimos meses, por conta da queda do endividamento do consumo não imobiliário, ainda que se considere a queda real da renda no período, que prejudica estatisticamente o cálculo do índice.
Mas é ainda relevante considerar que apenas a ativação da economia pelo aumento do consumo traz consigo dois benefícios importantes, para não dizer decisivos, neste momento. Contribuiria para o aumento imediato do emprego, especialmente no comércio e no varejo e aumentaria a arrecadação tributária, reduzindo a brutal pressão sobre Estados e Municípios, asfixiados pelo déficit fiscal.
De fato, no período de 2004 a 2013, Estados e Municípios, de forma geral e com raras exceções, foram beneficiados pelo aumento da arrecadação tributária trazida pelo aumento do consumo e ainda pela intensa pressão fiscal que atuou de forma inteligente e decisiva na redução da informalidade. Nesse período a arrecadação superou o crescimento econômico, especialmente por esses fatores.
Essa combinação estimulou o aparelhamento de Estados e Municípios, o aumento dos gastos públicos administrados pela ótica curto-prazista e o que hoje assistimos é em boa parte resultado dessa inconsequência gerencial e política. E não vamos escapar de um dramático processo de desidratação dos gastos públicos, revisão da Previdência e ajustes na máquina para tentar equilibrar o cenário. E isso irá gerar ainda maior pressão no nível de desemprego.
E as alternativas estruturais, como o micro empreendedorismo individual, não darão conta da absorção dessa mão de obra que será disponibilizada.
Desta forma é fundamental estimular, sem subsídios ou desonerações, o consumo e a forma mais indolor para isso é a revisão das políticas e restrições ao crédito às pessoas e a redução dos juros e dos spreads.
Objetivamente a revisão das políticas de concessão é ainda mais importante que a redução dos juros pois com exceção do cartão de crédito, a percepção e informação sobre taxas é difusa e pouco compreensível para o consumidor médio que faz menos conta do que deveria e acaba embarcando, erroneamente, na lógica de que se couber no orçamento ele encara a prestação, contra seu próprio interesse e que favorece a prática de juros escorchantes.
Por incrível que possa parecer no atual cenário, confiança rima com consumo e seria importante uma ação mais decisiva para destravar o país a bem da desejável estabilidade social e econômica.
Se demorar um pouco mais poderá ser tarde demais e nesse caso confiança vai rimar, de fato, com desesperança e nova mudança.