De um tempo para cá tem aumentado a quantidade de empresas brasileiras que citam em seus relatórios trimestrais iniciativas relacionadas com a sigla ESG (Environmental, Social & Governance, ou Ambiental, Social e Governança, em português). Algumas dessas empresas são movidas pela convicção de que devem colaborar efetivamente para o bem-estar da sociedade e do planeta. Outras, por conveniência, em função da pressão de consumidores, em especial as novas gerações, ou do mercado.
Pesquisa recente feita pela KPMG em diversos países, inclusive no Brasil, mostrou que 1 em cada 4 consumidores leva em consideração pelo menos um aspecto de ESG ao decidir por uma compra. Outro estudo, esse promovido pela PwC nos Estados Unidos, revelou que 86% dos trabalhadores dão preferência para empresas que se importam com as mesmas questões que eles. Finalmente, os investidores valorizam mais as ações de companhias com boas práticas empresariais.
Tudo isso tem feito com que empresas nacionais, incluindo varejistas e shoppings, comecem a divulgar mais suas atividades pela melhoria da vida das pessoas e do meio ambiente, o que é excelente. No entanto, em um dos aspectos mais espinhosos do ESG ainda estamos todos distantes do ideal. Falo de outra sigla, também composta por 3 letras: DEI – Diversity, Equity & Inclusion (Diversidade, Equidade e Inclusão).
Antes de mais nada, vamos definir esses três conceitos?
Diversidade é a presença em um ambiente de representantes de diferentes grupos, o que pode incluir raça, gênero, religião, orientação sexual, etnia, nacionalidade, condição socioeconômica, deficiência, idade, entre outros.
Equidade é um conceito importante, porque sugere uma revisão no discurso tradicional da meritocracia. Significa promover justiça, imparcialidade e igualdade nos procedimentos, processos e na distribuição de recursos por instituições, levando em conta as disparidades existentes na sociedade. Por esse raciocínio, exigir inglês fluente na seleção para um cargo seria perpetuar um sistema que privilegia aqueles que tiveram recursos para estudar em uma escola de idiomas.
Já a inclusão passa por assegurar que as pessoas diversas serão acolhidas e bem-vindas em um determinado ambiente, tendo as mesmas oportunidades de participar nos processos de decisão e desenvolvimento.
Você pode estar se perguntando: por que essa seria a etapa mais difícil do processo de adoção de boas práticas nas empresas. Bem, promover diversidade, equidade e inclusão pressupõe repensar conceitos enraizados em nós, como o papel de homens e mulheres na sociedade e a suposta importância de certas regiões do País em detrimento de outras. Exige respeito aos direitos de todas as pessoas, independente de suas orientações sexuais, características físicas ou capacidades. Os exemplos são intermináveis.
Aos poucos, no entanto, surgem iniciativas relevantes em favor da diversidade, equidade e inclusão em empresas brasileiras, incluindo o universo dos shoppings. Dentre elas, merece destaque a adesão da Aliansce Sonae (Also), uma das principais redes de shopping centers do País, ao MOVER (Movimento pela Equidade Racial).
Hoje, 47 companhias fazem parte do movimento, que surgiu após o assassinato de João Alberto Silveira Freitas, o Beto, por seguranças em uma loja do Carrefour. Dentre essas, várias são varejistas, como Renner, Magazine Luiza, Americanas, McDonald’s, O Boticário, Petz, GPA e o próprio Carrefour. A Also é a única do segmento de shoppings até o momento.
Dentro do programa de Diversidade, Equidade e Inclusão, a Aliansce Sonae realizou neste ano um amplo censo com funcionários próprios e terceirizados, para levantar dados demográficos e avaliar percepções relacionadas a esses temas. Com base nas informações coletadas, será desenvolvido um programa de estímulo à diversidade na empresa, incluindo os cargos de liderança.
O MOVER tem como objetivo criar 10 mil posições de liderança para profissionais negros até 2030, promovendo capacitação e conscientização sobre o tema da equidade racial no Brasil. O fato de haver tantas empresas varejistas e uma de shoppings engajadas nesta causa é animador. Profissionais negros em cargos de liderança nessas empresas podem ajudar na redução significativa da quantidade de situações de preconceito e discriminação que ainda acontecem todos os dias.
A sociedade é diversa e está em franca evolução. Fechar os olhos a essa realidade, pelo motivo que for, é o mesmo que ficar parado no tempo e correr o risco de perder relevância junto a consumidores, empregados e o próprio mercado. A hora é de discutir novas propostas, aprender e evoluir junto. E rápido.
Luiz Alberto Marinho é sócio-diretor da Gouvêa Malls.
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