Nós, do Instituto Mulheres do Varejo, encomendamos uma pesquisa para a Toluna sobre os 4Rs que tanto temos usado (Relevância, Respeito, Reputação e Resultado). Um dos resultados me chamou muito a atenção e há relação de como as lideranças têm muitos desafios pela frente e um papel fundamental na mudança social deste País.
De acordo com o estudo, feito com mil pessoas em regime CLT, somente 17% não trabalhariam em uma empresa com os valores diferentes dos seus. Ou seja, estamos num País em que ficamos onde estiver vaga. Não temos ainda o poder de escolha, pois há muitas contas para pagar.
Outro dado importante está relacionado com as barreiras enfrentadas pelas mulheres na sociedade: a manutenção do empregos. Segundo a pesquisa da Toluna, 27% dos homens estão na mesma empresa há mais de 10 anos, contra apenas 15% das mulheres. E 49% das mulheres trabalham há menos tempo, entre 1 e 5 anos, contra 38% dos homens.
Tenho pensado nos resultados do estudo intensamente. Não há outro caminho, se não quebrarmos paradigmas e pensarmos numa liderança mais humanista, com transformações disruptivas. Um case recente trouxe uma reflexão profunda sobre como isso é importante.
Fiz uma live com Gabriele Salvetti, de 24 anos, uma das proprietárias do Super das Frutas, em Balneário Arroio da Silva, em Santa Catarina. Ela e seu irmão criaram a segunda unidade da empresa, operada 100% por mulheres. Gabriele me contou que queriam abrir algo que tivesse um impacto social na cidade onde moram. Perceberam que os currículos eram sempre os mesmos e que a maioria das mulheres não comparecia às entrevistas.
Eles poderiam ter cruzado os braços, mas foram pesquisar o motivo da ausência de mulheres nas entrevistas. Resultado: a maior parte não tinha com quem deixar seus filhos. Foi então que resolveram abrir um supermercado operado somente por mulheres, com uma creche ao lado (com horários para amamentação), extensão de seis meses de licença-maternidade e sem problemas em contratar mulheres grávidas.
Em duas semanas, ela conseguiu compor seu quadro de 120 colaboradoras e formou 12 açougueiras, padeiras, mulheres para receber os caminhoneiros na área logística, caixas menores para as repositoras do FLV (Frutas, Legumes e Verduras) entre outras. Antes mesmo de abrir as portas, recebeu vários críticas afirmando que o modelo não daria certo.
Podem seguir as redes sociais desse supermercado e vocês vão ver quantos elogios encontram nos posts e a quantidade de pessoas curtindo e comentando. Numa cidade em que se tem 13.500 habitantes, ter posts com mais de 18 mil visualizações é um feito. Além disso, a cidade toda tem ido fazer compras e comentando sobre a atenção pelo cuidado e atendimento da unidade. Para Gabriele, tem sido um grande desafio reeducar muitas pessoas, mas ela continua firme e forte em seu propósito.
Quando eu vejo uma ação como essa, começo a atender e aprender com a nova geração. Precisamos quebrar paradigmas, se quisermos mudar os rumos desse País. E muitos desses paradigmas estão na nossa frente. Ainda estamos com mindsets muito ultrapassados.
Por isso, pensem nos 4 Rs (relevância, respeito, reputação e resultado), pois no final do dia, o que importa são as pessoas. Esse é o ativo mais importante que temos.
Sandra Takata é presidente do Instituto Mulheres do Varejo.
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