O varejo norte-americano continua a ser o maior, o mais moderno e o mais competitivo do mundo, porém a economia norte-americana deixou de ser a primeira do mundo, sendo superada pela China, segundo dados do FMI recém-divulgados. Quando a análise, ela é feita em termos reais, ou seja, baseada na paridade do poder de compra (PPP).
Nesse critério o tamanho da economia dos EUA seria de US$ 17,4 trilhões e a da China US$ 17,6 tri. Para efeito de comparação, no mesmo critério, a economia brasileira projetada para 2014 será US$ 3,1 trilhões, ou seja, 17,8% da economia norte-americana.
Como registro vale lembrar que, nos mesmos critérios, em 2000 a economia norte-americana representava, aproximadamente, três vezes o tamanho da economia chinesa e, atualmente, a China representa 16,5% da economia global, os EUA 16,3% e o Brasil 2,91%.
Mas o varejo norte-americano ainda é o maior do mundo e os dados recentes de crescimento mostram um vigor surpreendente, tendo alcançado em Novembro o crescimento de 5,1% nas vendas sobre o mesmo mês no ano passado. As previsões de fechamento de Dezembro indicam que deverá chegar a 4,1% o crescimento em 2014, depois dos 3,1% em 2013 e 2,9% em 2012. Vale lembrar que na história recente do desempenho do setor nos EUA o pior desempenho foi no auge da crise de 2008, quando foi negativo em 4,4% e no ano seguinte, 2009, também negativo em 0,5%.
Para o efeito comparativo a revista The Economist, estima que o crescimento do varejo global em 2014 será de 4,1% e já prevê que deverá crescer os mesmos 4,1% em 2015 e 4,2% em 2016. O varejo no Brasil, em termos reais em 2014 deverá crescer perto de 4,0% fortemente influenciado pela abertura de novas lojas e expansão do comércio eletrônico.
A economia norte-americana tem apresentado expressiva recuperação e recentemente foi revisto o crescimento anualizado para 5,0% no 3o trimestre, o maior crescimento dos últimos oito anos. A partir dos dados do Bureau of Economic Analysis, que contribui para a expansão do varejo nos EUA em 2014 fortemente concentrada no crescimento do consumo por conta da melhoria do emprego, que reduziu o desemprego para apenas 5,8% e, principalmente, da Confiança do Consumidor, que atingiu índice 93,6 em Dezembro, também o maior nos últimos 8 anos.
Para efeito de comparação a média desse índice foi 85,06 de 1952 a 2014, tendo sido o maior pico em Jan 2000 com 111,40, pouco antes do estouro da bolha da internet, segundo os dados divulgados pela Thomson Reuters, com base nos estudos da Michigan University.
Elemento fundamental no momento econômico dos Estados Unidos foi a redução do preço do petróleo que em Junho de 2014 estava em US$ 110 e neste final de ano ficou abaixo de US$ 60, com impacto na inflação, na redução de despesas com combustíveis, especialmente importante neste período de inverno, na geração de uma folga nos orçamentos pessoais que são direcionados para consumo e, como consequência de todo esse quadro, reforçando a confiança dos consumidores.
No comportamento setorial de vendas no varejo, o E-Commerce mostra maior vigor com um faturamento que, em 2014, deverá chegar US$ 442 bilhões, um crescimento de 11,8% sobre os US$ 395,3 bilhões alcançados em 2013.
Para 2015, estima-se o crescimento deverá ser de 11,3%. Especificamente para o período de Natal o crescimento do comércio eletrônico pode ter alcançado 16%, superior à média do ano, apesar de que as vendas do Black Friday cresceram apenas 11% aquém das expectativas que haviam sido feitas.
Outra constatação mais específica das vendas no varejo no período de Natal mostra que as grandes lojas teriam tido melhor desempenho do que as redes especializadas por conta de uma maior agressividade promocional, especialmente, após certa frustração com o comportamento do Black Friday, o que deverá significar redução da rentabilidade do varejo no período, apesar do expressivo crescimento das vendas.
A continuidade do crescimento do consumo e das vendas do varejo norte-americano é um aspecto positivo para toda a economia global, pois sinaliza que a segunda economia do mundo continuará fazendo a sua parte e contribuindo para a retomada de negócios ao lado da economia chinesa e compensando em parte o desempenho mais fraco das economias europeias e a japonesa.
Se de um lado o crescimento norte americano é positivo por estimular exportações brasileiras, de outro, mais realista, afasta investimentos no Brasil pela expectativa de baixa expansão de nossa própria economia.
A mensagem é clara: temos nós mesmos que fazer a nossa parte.
Marcos Gouvêa de Souza (mgsouza@gsmd.com.br) diretor-geral da GS&MD – Gouvêa de Souza.