Por Rodrigo Anunciato*
O NRF Retail’s Big Show 2016, realizado em Nova Iorque (EUA), no último mês de janeiro, trouxe grandes reflexões não apenas para o universo do varejo, mas às organizações de uma forma geral.
Dentre todos os temas abordados durante o evento, uma das principais palavras de ordem que receberam amplo destaque foi “propósito”.
Para muitos, o propósito pode parecer mais um daqueles termos criados pelos profissionais de recursos humanos, ou mesmo pelos grandes autores que defendem aspectos emocionais para a alavancagem de resultados nas organizações, mas neste momento o emprego do termo propósito vai muito além disso.
Em um evento realizado em 2015 no Brasil, Joey Reiman, nomeado pela Fast Company como uma das 100 pessoas que vão mudar o jeito que o mundo pensa e autor do livro “Propósito – Por que ele engaja colaboradores, constrói marcas fortes e empresas poderosas”, destacou que “desenvolver uma cultura de propósito permitirá às empresas brasileiras terem uma nova lente para olhar através da abordagem da criatividade, liderança e inovação, garantindo iniciativas de alinhamento e de defesa”.
Na visão de Reiman, propósito é a razão distinta de uma organização existir e o impacto positivo que procura deixar no mundo. Nada além do que Nietsche chamou de porquê, ou que a Disney chama de magia, ou seja, o propósito que movimenta as ações de empresas e indivíduos.
De modo geral, as pessoas anseiam por sentirem que estão fazendo parte de algo grandioso, bem como por significados para suas ações, pontos que vêm se disseminando cada vez mais, inclusive com a chegada da geração Y, também chamada de millennials, ao mercado de trabalho.
Você pode, mais uma vez, estar pensando na questão de ser uma conversa repetida, mas de fato não é. Cada vez mais se comprova que os seres humanos precisam de um significado maior, pois nossas mentes só sobrevivem 30 segundos sem significado.
Se as pessoas se sentirem fazendo parte de algo maior, logo trabalharão mais e melhor, também terão mais de uma conexão emocional com seus empregos e com as marcas para as quais prestam serviços. E isso funciona quando as empresas crescem com o crescimento das pessoas.
Os seres humanos são criaturas que têm sede de um propósito maior, e quando isso acontece, tornam-se leais e apaixonados pelo que fazem: o que se traduz em lucros.
Ao analisarmos o atual cenário econômico, político e social do Brasil, vamos mais uma vez constatar que os negócios podem ser compreendidos através dos colaboradores que estão por trás do trabalho.
Assim, para que as empresas se tornem mais competitivas no mercado, é preciso transformá-las, criando uma história da marca de maneira emocional.
Isso levará à conexão com cada profissional, permitindo melhor cooperação. Ter objetivos facilita o alinhamento entre os colaboradores e torna-os defensores da marca.
Em linhas práticas, isso significa que quando uma empresa tem sua base no propósito, consegue resultados financeiros mais elevados, uma vez que as pessoas se tornarão defensoras das marcas. Isso não é responsabilidade social corporativa, mas oportunidade social corporativa. Desta forma, se ganha dinheiro.
Assim, torna-se cada vez mais importante construir um novo tipo de organização, que seja capaz de combinar o conhecimento de especialistas e o propósito das organizações.
Um propósito comum não é o que se descreve em banners, documentos ou mesmo transmitido por declarações de um líder carismático, mas o que articula como um grupo irá se posicionar em relação a concorrentes e parceiros e qual será a sua contribuição com os clientes e o mercado.
Ao combinar o propósito comum à mobilização dos talentos de profissionais em iniciativas flexíveis e altamente gerenciáveis de trabalho em grupo, a empresa vai promover não só inovação e agilidade, mas também a eficiência e a escalabilidade das quais qualquer empresa necessita.
Esse propósito comum não é a expressão de uma essência eterna da empresa, mas uma descrição daquilo que todos na organização estão tentando fazer e norteia iniciativas em todos os níveis: a estratégia de negócios da cúpula da organização, o planejamento conjunto da parceria entre gestores e profissionais bem como o trabalho de equipes em cada unidade para aprimorar processos.
Isso significa que uma empresa orientada ao propósito incentiva as pessoas a aplicar continuamente seus talentos em projetos em grupo e a ter, como motivação, uma missão coletiva, não só o ganho pessoal ou o prazer da criatividade individualizada.
Nesse sentido, fica evidente que se fala menos de uma visão e mais do reconhecimento dos desafios que todo membro do grupo é responsável por enfrentar todos os dias.
Para dar conta desse recado, a empresa precisa de muito mais do que cooperação mínima e mera conformidade. Precisa de ideias de todos sobre como fazer as coisas de um jeito melhor e mais barato. Precisa de colaboração de verdade.
Bel Pesce, autora do livro “A menina do vale”, descreveu recentemente o que considero a síntese da construção de um propósito nas organizações: “Os tempos mudaram. Antes, nos inspirávamos em heróis inalcançáveis. Agora, nada inspira mais do que super-heróis de carne e osso. Antes, o bonito era fazer as coisas de maneira fechada, criar algo seu. Hoje, é lindo fazer histórias conjuntas, criar algo nosso”.
Pense nisso!
*Rodrigo Anunciato ([email protected]) é gerente de Soluções e Projetos da GS&MD – Gouvêa de Souza