Os meses entre junho e novembro de 2024 destacaram três movimentações que marcam o cenário de consolidação que se desenha no mercado de grandes redes de alimentação no Brasil.
O primeiro foi a aquisição das operações Starbucks e Subway por Zamp (atual dona das operações de Burguer King e Popeyes), na sequência a renovação por mais 20 anos do contrato da Arcos Dorados para continuidade das operações McDonald´s no país, e, mais recentemente, Vinci Partners adquirindo 67% das operações da Bloomin Brands (Outback, Abraccio e Aussie Grill).
Esse último movimento com destaque para a qualidade de EBITDA da Bloomin Brands do negócio Brasil, o que o tornou um ativo importante para a matriz internacional, tornando essa uma negociação bastante positiva do ponto de vista financeiro.
Outro destaque levado em conta na negociação foi a construção de marca feita pelo time Brasil que reúne legião de fãs da marca Outback, e que agora segue na ampliação dessa cultura de relacionamento para Abraccio e Aussie Grill.
Do ponto de vista de economia, sempre falamos que o Brasil não é um país para amadores, pois os negócios são desafiados a conviverem com inflação, instabilidade política e sistema tributário, que vem sendo simplificado, mas ainda está longe de ser comparado ao de economias mais maduras.
Um marco a destacar no setor de alimentação é que nos últimos 25 anos o país viveu seu boom de profissionalização e expansão do agronegócio. Excelente para PIB e balança comercial e como efeito colateral, elevação dos padrões internos de produção para o mercado de foodservice, portanto, reduzindo a dependência de insumos importados para as marcas que se instalaram por aqui, além de maior competitividade nesse fornecimento.
Em 30 de junho de 2024 completamos 30 anos do plano real, um marco para o reposicionamento econômico do país, um vento a favor para o desenvolvimento de negócios em geral, mas, especialmente os do setor de alimentação. Uma vez que o processo de reorganização econômica trouxe maior confiança para o desenvolvimento de negócios internacionais no país e condições para os consumidores ampliarem seus hábitos de consumo de alimentos fora de casa.
O IPCA – Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, desde 1995 ficou 58% do acumulado no ano abaixo de 6%, o que novamente, não é perfeito, mas permitiu aos líderes do segmento atuarem de forma mais estruturada.
Nesse momento o mercado de foodservice independente, que representa 78% do número de estabelecimentos no país, vem passando por um processo de enxugamento. Segundo dados da Data Driva, entre aberturas e fechamentos a diferença é de uma redução de 14% dos registros de negócios (CNPJ) com c-nae de foodservice só no período de janeiro a junho de 2024, representando cerca de 105 mil estabelecimentos.
A pressão do consumidor por mais qualidade e profissionalismo certamente dificulta a continuidade de estabelecimentos muito pequenos que, geralmente, não estão tão preparados e não possuem fôlego financeiro para se manterem por tempo suficiente para construírem uma relação de longo prazo, a exemplo do que as marcas citadas nesse artigo vêm fazendo.
Pensar que existem tantos interessados no setor nos fazer refletir que o caminho para dar vazão ao desejo de empreendedorismo pode ser o engajamento como profissional ou no segmento de franquias em uma etapa inicial para maior preparação.
Uma brincadeira que gosto de fazer é que marcas como Outback, Mc Donald´s, Burguer King e Starbucks estão para o Brasil, como o Brasil está para Bruno Mars. Uma relação nutrida pelo melhor de cada uma das partes, com carinho, respeito e interesse genuíno.
Ainda não sei o quanto Bruno Mars considera investir em artistas brasileiros para fazer uma contribuição adicional ao país, mas espero que as grandes redes considerem esse como um tópico fundamental em sua estratégia. Para devolver ao país mais do que impostos, mas a oportunidade de construirmos marcas fortes que possam tornar nossa indústria mais robusta, respeitável, e para que possamos existir em outros países e retornar ao nosso país mais riquezas.
Que venham mais 30 anos de maior maturidade e sucesso pela frente!
Cristina Souza é CEO da Gouvêa Foodservice.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
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