O valor necessário para se comer fora do lar está mais alto e isto pode ser uma boa notícia para o setor de foodservice. A pesquisa Preço Médio da Refeição Fora do Lar, de 2023, realizada pela Mosaiclab entre junho e agosto deste ano, mostrou que o valor médio de uma refeição completa para o trabalhador é de R$ 46,60.
Esse valor, que contempla um prato de comida, uma bebida, uma sobremesa ou fruta e um café, ficou 17,4% mais caro neste ano em relação a 2022. Essa pesquisa foi encomendada pela Associação Brasileira das Empresas de Benefícios ao Trabalhador (ABBT) e ocorre há mais de 20 anos. São 5.470 preços coletados presencialmente, de 4.516 estabelecimentos comerciais em 22 Estados e o Distrito Federal, o que a torna a mais completa e robusta coleta de preços do setor.
Em uma primeira leitura dos dados chama a atenção o fato do valor ser bastante alto. Isso significa que para se alimentar, o trabalhador precisaria desembolsar R$ 1.025,20 mensalmente ou o equivalente a 35% do rendimento médio do brasileiro medido pelo IBGE, que era de R$ 2.921 na época em que se iniciou o campo da pesquisa, em junho de 2023.
Vale ressaltar que a pesquisa do preço médio mede o valor da refeição pela ótica da oferta, ou seja, o valor cobrado pelos restaurantes. A realidade, no entanto, é diferente sob a ótica do consumidor. Uma outra pesquisa da Mosaiclab, chamada Crest, com 72 mil entrevistas por ano em todo o Brasil, mede o consumo do brasileiro de refeições preparadas fora do lar, em bares, restaurantes, lanchonetes, no varejo e até mesmo em máquinas de autosserviço, mais conhecidas como vending machines.
Segundo esta pesquisa, quando filtramos o valor pago por uma refeição, durante a semana, em estabelecimentos como restaurantes, lanchonetes e autosserviço (a quilo ou buffet), os valores gastos eram menos da metade do valor ofertado pelos restaurantes, de R$ 22,37.
Por que o preço efetivamente pago pelo consumidor é menor do que o ofertado medido na pesquisa com estabelecimentos? É preciso esclarecer que a pesquisa da ABBT leva em conta uma média ponderada entre os diferentes categorias de refeição no Brasil.
São medidos os restaurantes por tipo: comercial (o popular “prato feito”), autosserviço (sistema self-service por quilo ou buffet a preço fixo), executivo (oferece sempre um cardápio do dia em promoção) e à la carte (consumidor escolhe o prato que será preparado na hora e tem algumas características diferenciadoras como maitre, recepcionista, estacionamento, carta de vinhos etc.).
No dia a dia, o consumidor não varia tanto suas escolhas, fazendo suas refeições normalmente em restaurantes mais populares, deixando o à la carte, por exemplo, para ocasiões especiais em sua maioria. O fato é que o aumento dos preços pela ótica dos estabelecimentos é uma boa notícia para o setor.
Depois de 3 anos de muita pressão sobre o setor, com aumentos de custos que foram desde os aluguéis, passando pelas matérias-primas, mão de obra e os custos de delivery, para muitos estabelecimentos esse foi o único canal de vendas em dados momentos da pandemia. Os estabelecimentos puderam finalmente repassar parte destes custos para o consumidor, que vive um momento de recuperação do seu rendimento médio, com índices de confiança nas alturas e desemprego e inflação em queda.
Embora o brasileiro ainda esteja sofrendo com uma pressão de custos, as perspectivas parecem boas e mais previsíveis para o consumo. A volta ao trabalho presencial e o arrefecimento dos modelos de trabalho híbrido ajudam nessa retomada do setor, mesmo que ainda não tenha retomado os patamares pré-pandemia.
Um outro dado da pesquisa do preço médio que saltou aos olhos é que 70% dos estabelecimentos pesquisados afirmam que o cenário futuro do seu setor de comida fora do lar vai melhorar, enquanto 25% acham que ficará como está e apenas 5% acreditam que vai piorar.
Dizem que na economia a perspectiva futura positiva prediz um futuro realmente promissor. Tudo indica que o setor está confiante e, finalmente, conseguindo repassar custos e repor margens depois de tantos anos de sofrimento. Vale acompanhar para ver se estas previsões se confirmam e se o consumidor aumentará seu ticket médio ou seguirá precavido, administrando seus gastos com as mais diversas categorias.
Ricardo Contrera é sócio-diretor da Mosaiclab.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
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