Varejo on-line ensaia desaceleração em meio a retomada em lojas

Varejo on-line ensaia desaceleração em meio a retomada em lojas

Análise dos dados de mobilidade de consumidores no país e dos downloads de aplicativos de redes varejistas mostra que a desaceleração nas lojas físicas se reduziu e a operação on-line dá sinais de já estar perdendo força, diz em relatório a equipe do Goldman Sachs.

O material mostra que de 29 de junho a 5 de julho, o tráfego de clientes caía 41%, comparado a um intervalo entre janeiro e fevereiro (antes da covid-19). Quase um mês antes, entre 25 de maio e 31 de julho, a queda era maior, de 51%, e entre 1 de julho e 7 de julho, a retração era de 46%.

Na primeira semana de julho, a equipe do banco verificou o melhor desempenho geral de tráfego de clientes no varejo desde 16 de março, afirmam no relatório Irma Sgarz, Thiago Bortoluci e Chandru Ravikumar.

A área de análise cruzou dados de mobilidade de ferramentas do Google com informações semanais de downloads de todas as principais varejistas brasileiras e publicou duas tabelas com esses desempenhos por setor e por empresa, semana a semana, desde fevereiro.

O levantamento ainda sugere que o tráfego no varejo foi volátil nas últimas duas semanas (22 de junho a 5 de julho), piorando na semana de 22 a 28 de junho, até atingir uma melhora de 29 de junho a 5 de julho.

Regiões no Norte, Estado do Rio de Janeiro e Nordeste registraram o maior tráfego na semana de 29 de junho a 5 de julho.

O Goldman destaca, entre mudanças recentes principais, o funcionamento de shoppings por 6 horas ao dia (acima das 4 horas anteriores) desde o começo da semana passada e o fato de redes de moda terem começado a reabrir provadores também, algo que afeta a compra por impulso de consumidores.

Outro ponto de destaque é que o comércio eletrônico em geral permaneceu forte, mas mostrou sinais iniciais de uma desaceleração gradual.

“Downloads para os principais aplicativos de comércio eletrônico que rastreamos continuam a mostrar um crescimento anual de três a quatro dígitos, mas em um ritmo sequencialmente mais lento do que o anterior”, diz a equipe.

“Nas últimas duas semanas da pesquisa (22 de junho a 5 de julho), o número de downloads de empresas de comércio eletrônico em geral cresceram, em média, 151% versus ano anterior, abaixo da média de 213% no período nas duas semanas anteriores.”

O desempenho mais positivo, ainda com taxas mais fortes de expansão, foi do Mercado Livre. Os piores desempenhos são da Aliexpress, Época Cosméticos.

O fato de a chinesa Alibaba depender da entrega de produtos da China — demanda que no país tem caído desde início da pandemia — pode pesar nesse desempenho. No caso da Época, controlada pelo Magazine Luiza, a operação tem se integrado com a plataforma do Magalu, o que pode ter afetado os downloads, diz o banco.

Os downloads dos aplicativos Casas Bahia e Pontofrio da Via Varejo também continuaram com crescimento de três dígitos. “Observamos que, em termos de volume, o aumento no aplicativo Casas Bahia é mais significativo”. Pesa o fato de a empresa ter uma das bases de comparação mais baixas do setor — até metade de 2019, o controlador da rede era o GPA.

Em parte por conta disso, a Casas Bahia continua sendo um dos aplicativos mais baixados no acumulado do ano, um pouco abaixo do desempenho da Americanas.com, da B2W, e do Magazine Luiza, ambas com bases de comparação mais fortes.

“Nós acreditamos que esse forte crescimento [da Casas Bahia] é impulsionado pelo patrocínio de eventos ao vivo do YouTube e por campanhas comerciais que enfatizam maiores descontos e promoções especiais que só podem ser acessados através do aplicativo”, disse o banco.

Nos “apps” de entrega, o Goldman destaca uma leve recuperação, após a perda de velocidade nos downloads.

No entanto, os aplicativos de compras on-line como o Supermercado Now, da B2W, e o Carrefour Brasil continuam apresentando forte crescimento de downloads. É preciso considerar em ambos os casos os números mais fracos de 2019, que acabam pesando favoravelmente nessa comparação com 2020.

Na área de moda, a maior demanda verificada em aplicativos e sites semanas atrás, antes da reabertura das lojas físicas, perdeu o impulso, à medida que as lojas desse setor estão sendo reabertas.

“O aplicativo da C&A Brasil continua liderando o grupo em termos de acumulado no ano em downloads e registrou consistentemente maiores taxas de crescimento anual quando comparado ao aplicativo da Lojas Renner”, diz o banco. A Renner tem uma operação mais madura e consolidada no on-line do que a C&A.

Em suma, o banco entende que a reabertura não tem tido efeito linear no varejo, com riscos de possíveis novos fechamentos de lojas por causa do aumento das taxas de infecção em certas regiões. Mas alguns dados sugerem que a cidade de São Paulo pode estar entrando numa estabilização à frente de outras regiões, diz.

Com informações do Valor PRO.
* Imagem reprodução

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