“O mundo expandido do varejo e serviços se encontra em Nova York sempre na segunda semana de janeiro durante a NRF Show. A combinação de feira, conteúdo e relacionamento transformaram esse no mais importante evento internacional do setor para o Brasil.
Perto de 2.500 brasileiros deverão participar presencialmente da feira, que receberá cerca de 40 mil pessoas. O Brasil tem sido a maior delegação internacional nos últimos anos.
Temos acompanhado há 38 anos a evolução estratégica e conceitual que marcou o setor no período, com suas diversas vertentes envolvendo os ciclos de vida de formatos de lojas, as categorias de produtos, o reposicionamento das marcas e o crescimento dos serviços e soluções, além da participação dos canais de vendas e modelos de negócios.
E nunca a tecnologia e o digital, agora combinados com a Inteligência Artificial, foram tão determinantes como fatores críticos na visão presente e futura do negócio.”
Por razões comerciais e promocionais, a tecnologia sempre foi protagonista ao longo de todo esse tempo, uma vez que as empresas do setor sempre foram as maiores patrocinadoras e expositoras do evento. A tal ponto de que era preciso alertar para não sobrevalorizar demais seu protagonismo, ofuscando todos os demais elementos envolvidos nos negócios. Mas é preciso reconhecer que o tempo, também nesse caso, foi senhor da razão.
No atual cenário, metacompetitivo, hiperglobalizado, com omniconsumidores ultraempoderados, a combinação de tecnologia, digital e Inteligência Artificial é a catalizadora de todas as transformações no presente e no futuro do varejo expandido pela crescente incorporação de serviços e soluções.
E isso acontece nas áreas críticas que envolvem o uso desses elementos para fazer frente ao processo que culminou com essa metacompetitividade.
Desenvolveu-se uma sociedade muito mais orientada para o valor, em razão do amplo acesso às informações e alternativas que os omniconsumidores ultraempoderados têm disponíveis num ambiente em que a racionalidade, no processo decisório, cresceu em importância por causa dos cenários econômicos e políticos. E a inflação global pós-pandemia potencializa esses processos.
Os omniconsumidores, nas mais diversas economias, regiões e realidades, são acessados pelo varejo expandido, por marcas e fornecedores, e se tornam muito mais atentos aos preços, benefícios, às vantagens e condições de pagamentos. A sociedade é cada vez mais orientada pelo valor.
“Mais por menos” é a palavra de ordem. E o acesso rápido e imediato às informações cria alternativas e estimula a comparação de benefícios nos mais diversos mercados do mundo.
Para desenvolver negócios, torna-se crítico incorporar e usar a tecnologia para racionalizar, simplificar, reduzir custos e oferecer esse “mais por menos” demandado pelos omniconsumidores.
Ao mesmo tempo, é importante fugir do processo de comoditização que o digital precipita e criar experiências, customizar o atendimento e reconhecimento individual para se diferenciar. E, nesse processo, se torna mais crítico equilibrar a rentabilidade pressionada pelo aumento dos custos.
Novamente, a tecnologia, o digital e, agora, a Inteligência Artificial podem resolver essa equação no posicionamento das marcas e categorias de produtos, na incorporação de serviços e soluções, na reconfiguração dos formatos de lojas, na participação de canais e na evolução dos modelos de negócios no varejo.
Um processo abrangente geograficamente
Vale destacar que esse processo, diferentemente do passado, não tem epicentro nos Estados Unidos ou na Europa.
É um processo amplo e abrangente que acontece, ao mesmo tempo, na América do Norte, nos principais países europeus e, principalmente, na Ásia, com crescente protagonismo de Índia, China, Coréia do Sul e Indonésia. E também acontece no Brasil.
Só para lembrar que Brasil, China e Índia são três dos mercados que mais desenvolveram o pagamento digital, reconfigurando a lógica tradicional dos sistemas de pagamentos.
Assim como o buy now, pay later (compre agora e pague depois) dissemina sua presença na Europa, nos Estados Unidos e na Índia, o Brasil talvez possa ser considerado o berço dessa prática no varejo no mundo.
Esse protagonismo do trinômio digital, tecnologia e Inteligência Artificial determina em definitivo o futuro dos setores de varejo e do consumo no mundo, bem como seu entendimento, incorporação e prática. Nos planos estratégico, operacional e cultural das organizações, faz e fará toda a diferença nos resultados, no desenvolvimento e na sobrevivência dos negócios e dos seus líderes.
E não é uma questão de escolha. Assim já é e será!
Marcos Gouvêa de Souza é fundador e diretor-geral da Gouvêa Ecosystem e publisher da plataforma Mercado&Consumo.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
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