O investidor estrangeiro ingressou com R$ 45,6 bilhões na B3 neste início de ano e sustentou a alta da Bolsa. No mesmo período, investidores institucionais e individuais retiraram R$ 40,2 bilhões e R$ 8,7 bilhões, respectivamente. Já as empresas e as instituições financeiras injetaram R$ 1,9 bilhão e R$ 1,6 bilhão. Um dos principais atrativos das empresas brasileiras para o investidor estrangeiro é que, assim como o real, elas estão baratas.
Na análise de Carlos Carvalho Junior, sócio-fundador da Kínitro Capital, na última década elas perderam valor com a crise sem fim em que o País mergulhou. “O Brasil está com uma performance ruim há mais de uma década. A cotação do real também está fora do lugar. Estimamos que o câmbio esteja uns 15% fora (mais barato do que deveria). Os ativos aqui estavam muito depreciados e ficou barato para o investidor estrangeiro.”
Também tem favorecido a atração do capital estrangeiro a decisão de o Banco Central (BC) começar a elevar a taxa básica de juros em março de 2021 – cerca de um ano antes do que se espera para os EUA. A taxa elevada por aqui tem atraído o capital de curto prazo, diz o economista Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria.
Por fim, além de grandes empresas da B3 trabalharem com commodities, cujas cotações estão em alta, o momento é de pessimismo com companhias de tecnologia. Isso porque esse setor trabalha com prazos longos e projetos de maior risco.
Assim, os investidores costumam dar aval para essas empresas quando não há perspectiva de elevação na taxa de juros, isto é, quando sabem que o dinheiro não vai ficar mais caro – o que não é o caso agora. O momento hoje é de apostar em segmentos mais tradicionais, como os brasileiros, com fluxo de caixa mais previsível, explica Carvalho Junior.
Cenário global complexo
A aposta dos estrangeiros neste começo de ano não significa que eles não estão preocupados com a incerteza das eleições, na análise do economista-chefe da Trafalgar Investimentos, Guilherme Loureiro. Para ele, os investimentos aqui têm sido mais uma decisão tática diante de um cenário global complexo. “É uma janela de oportunidade.” Loureiro diz ainda que a calmaria no mercado doméstico deve ir até maio, quando as discussões sobre a agenda econômica do próximo governo entrarão em pauta.
Já Carvalho Junior afirma não enxergar investidores de longo prazo entrando no País, o que significa que a tendência pode mudar rapidamente. Campos Neto também vê esse interesse no Brasil como uma busca por oportunidade.
Na visão de Artur Wichmann, da XP Private, no entanto, essa saída de recursos não é certa. “Se fosse uma questão apenas de juros, o dinheiro já não deveria estar entrando agora. O mercado está dizendo que tem um ciclo, minério e petróleo estão subindo. Esse ciclo favorece mercados como o brasileiro.”
Ativos do Brasil surpreendem
Apesar de um cenário adverso no mercado internacional e da proximidade das eleições, os ativos brasileiros entraram numa trajetória de alta no início deste ano. Desde janeiro, o Ibovespa, principal índice da B3, avançou 9,5%, enquanto o dólar caiu 7,45% – passando de R$ 5,58 para R$ 5,18. Só nesta terça-feira, 15, a Bolsa subiu 0,82%, para 114,8 mil pontos, e a moeda americana recuou 0,72%.
O desempenho brasileiro destoa do de países ricos. Nos EUA, por exemplo, a Bolsa de Nova York acumula queda de 2,84%, e a Nasdaq, de 10,85%. Na Europa, Frankfurt recuou 2,84% desde o início de 2022. Mercados latino-americanos seguem a tendência brasileira. As Bolsas da Argentina e do Chile já avançaram 5,4% e 8%, respectivamente.
Esse cenário não é o esperado quando há a expectativa de um aperto monetário pelo Federal Reserve (o Banco Central dos EUA). Nesses casos, o fluxo de capital é em direção ao mercado americano, que passa a pagar mais por empréstimos e é tido como mais seguro.
Para o economista-chefe da Trafalgar Investimentos, Guilherme Loureiro, o que explica o panorama é o fato de as Bolsas americanas estarem caras, as europeias com risco elevado em razão do conflito entre Rússia e Ucrânia e a chinesa ainda sofrendo com a crise do setor imobiliário. “Aí aparece a América Latina, ainda mais em um ambiente de commodities mais altas.”
O diretor de investimentos da XP Private, Artur Wichmann, afirma que o otimismo não é com os ativos brasileiros, mas com as companhias que trabalham com commodities. “Antes de dizer que o Brasil está se destacando, tem de separar o que é mérito nosso. O mundo ligado ao ciclo de commodities e à alta de juros é que vai muito bem.”
Com informações de Estadão Conteúdo
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