“O quadro atual configura mais uma preocupante polarização. De um lado, os que acreditam no Estado forte, onipresente e provedor e sendo sustentado por impostos e taxas pagos pela sociedade para que possa cumprir seu papel. De outro, os setores empresariais, o segmento privado e os empreendedores que acreditam na força do mercado aberto, competitivo e baseado apenas na economia de mercado. Como é de se imaginar, a melhor solução pode estar numa combinação virtuosa dessas duas visões e considerando as características muito particulares do País.”
Essa visão maniqueísta do mundo, baseada apenas nos extremos dos modelos, leva a distorções que nos fazem andar de lado, quando não para trás, impedindo que o País possa evoluir positivamente e ainda corrigindo as distorções que essa visão polarizada precipita.
No cenário atual, temos exemplos que se repetem e comprometem o futuro de curto, médio e longo prazo.
Um deles é a visão míope que, para beneficiar consumidores, permite comprar de plataformas internacionais produtos sub ou não tributados, concorrendo com toda a cadeia de valor local, e que isso pode angariar a simpatia e o apoio popular.
Ignora-se que esse benefício artificial dentro das regras tributárias vigentes gera desemprego, perda de renda e reduz investimentos locais em toda a cadeia de valor das categorias de produtos envolvidos. E que cada vez é mais abrangente.
Afetou, inicialmente, o setor de confecções, calçados e moda e tem se espalhado agora para muitas outras categorias.
Definitivamente, não se trata de impedir nada nem ninguém, mas, sim, assegurar equidade competitiva para essas categorias de produtos com regras iguais para todos que queiram atuar nesse mercado. Sem fantasias ou pirotecnia que crie ilusões.
Os próprios setores econômico, da indústria e do comércio do governo reconhecem essa desigualdade e, no momento em que lutam para aumentar arrecadação do Estado que cresce e incha, entendem que seria importante essa equidade competitiva.
Mas não conseguem sensibilizar os míopes que pensam nos aplausos estéreis que comprometem o futuro. E são muitos exemplos que mostram que os setores empresariais, os empreendedores e os segmentos privados precisam se organizar e se integrar ante a realidade, não mais um risco, de um desequilíbrio estrutural que está configurado.
A necessária e fundamental reforma tributária recém aprovada e realizada antes da reforma administrativa pereniza a visão de um Estado menos eficiente, mais inchado e que cada vez mais cobra da sociedade um preço mais caro por sua organização menos eficiente.
Os movimentos que começam a ocorrer com frentes parlamentares integradas com segmentos empresariais é um saudável e fundamental movimento para fazer valer propostas e visões que defendem um Estado moderno e em condições de apoiar a iniciativa privada em áreas onde é mais eficiente e se concentre principalmente no trinômio da Educação, Saúde e Segurança, onde tanto precisa ser feito e atualizado.
Da mesma forma, como a integração de entidades dentro das cadeias de valor de segmentos ou categorias, como no food service, no material de construção, no pet, na confecção e na moda ou no café, só para citar alguns, também é um movimento estratégico importante, quase decisivo para um pensar mais aberto, amplo e visionário para a fundamental transformação estrutural.
E nenhuma entidade, frente ou movimento conseguirá avançar sem se integrar de forma ampla para além das vaidades e questões pessoais, pois os desafios são grandes demais para se imaginar vencer só num cenário tão desafiador.
É integrar ou entregar.
Tão simples assim.
Nota: “Integrar para não Entregar” foi slogan de um movimento no final dos anos 1960, o Projeto Rondon, que integrava estudantes voluntários universitários das mais diversas áreas para conhecerem e ajudarem comunidades carentes isoladas em todo o Brasil.
Para críticos do projeto, haveria uma tentativa de cooptação desses estudantes para as teses do governo. Para os que participaram, houve uma real contribuição para melhor entendimento da realidade e dos contrastes do País e um apoio para minimizar problemas das desigualdades que persistem até hoje.
No início de minha carreira profissional, ainda na faculdade, tive a oportunidade de atuar como assessor de Relações Públicas e Imprensa do projeto.
Marcos Gouvêa de Souza é fundador e diretor-geral da Gouvêa Ecosystem e publisher da plataforma Mercado&Consumo.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
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