Estereótipos e generalizações prestam um desserviço à relação entre a geração Y e seus chefes, colegas e subordinados. Ainda assim, dizem especialistas no assunto, muitos profissionais nascidos entre 1981 e 1994 de fato compartilham certos padrões típicos de comportamento —inclusive alguns bastante indesejáveis.
O principal deles é a impaciência. Da pressa para assumir um cargo de chefia à dificuldade para lidar com as frustrações no ambiente de trabalho, o jovem mostra que não gosta de esperar muito para obter o que deseja.
A ansiedade para vencer na carreira tem seu lado positivo, mas pode acarretar desmotivação e até atraso para o desenvolvimento profissional do grupo.
Certas crenças e atitudes atrapalham o sucesso da geração Y. Veja a seguir 4 delas, traduzidas em frases emblemáticas por especialistas no assunto:
1. “Ainda vão perceber o meu talento”
Misto de ingenuidade e arrogância, esta frase simboliza a necessidade do representante típico da geração Y de receber aplausos por competências que ele muitas vezes superestima em si mesmo, diz a coach Silvana Mello, da consultoria LHH|DBM.
Para o psicólogo Tomas Chamorro-Premuzic, professor na University College London (UCL), muitos jovens são ao mesmo tempo narcisistas e inseguros: precisam se admirar muito, mas também necessitam da aprovação constante dos outros para reforçar sua autoimagem positiva.
Reconhecer os próprios talentos é saudável e necessário, mas pode virar problema se o jovem assumir o papel de “gênio incompreendido” — e trocar a ação pela reclamação. É preciso se esforçar para ganhar visibilidade na empresa, diz Mello, e não simplesmente cruzar os braços, torcer o nariz e esperar até que alguém decida reconhecer o seu potencial.
2. “Tudo vai melhorar quando eu for chefe”
Outro mito que precisa ser esquecido é a ideia de que a felicidade no trabalho é diretamente proporcional à posição hierárquica — como se a vida se tornasse mais fácil quando se chega a postos de comando.
Além de criar uma satisfação crônica com a vida profissional, esse tipo de raciocínio impede que o jovem descubra prazer no aprendizado e valorize as experiências de cada etapa da carreira.
Convencido de que a cadeira do chefe é muito mais confortável do que a sua, você terá uma desagradável surpresa quando finalmente chegar a sua vez de ocupá-la. “A liderança é muito mais complexa do que se imagina”, afirma Eline Kullock, diretora da consultoria de recrutamento Stanton Chase. “Você será mais cobrado do que nunca, inclusive pelas entregas alheias, e assumirá a difícil tarefa de motivar outras pessoas”.
3. “Preciso crescer logo nesta empresa”
“Esta é uma geração que imagina que tudo é possível e anseia por um sucesso rápido”, diz Mello. “Há um choque de realidade quando o jovem percebe que a maioria das empresas ainda é muito tradicional em alguns aspectos e impõe processos lentos para a ascensão profissional”.
A pressa para subir de cargo está diretamente relacionada à autoconfiança excessiva e à ideia de que a vida do chefe é mais prazerosa. O resultado é sempre o mesmo, avalia a coach: desmotivação, infelicidade e baixo aprendizado. Ironicamente, esses efeitos acabam atrasando ainda mais a tão sonhada promoção.
O conselho da coach é compreender que o crescimento não se dá apenas pela ascensão hierárquica. “No começo de carreira, o aprendizado é muito mais importante do que os cargos em si”, diz ela. “Além disso, você também pode crescer de forma horizontal, e não só vertical, assumindo novas responsabilidades e liderando projetos para a sua área”.
4. “Se não estiver bom, mudo de emprego”
Nenhum trabalho é feliz o tempo todo: experiências agradáveis e estimulantes serão sempre intercaladas com momentos de estresse, desânimo e frustração. A dificuldade para aceitar isso é um problema típico da geração Y, na visão de Kullock, e cobrará seu preço mais cedo ou mais tarde.
“Se um profissional pede demissão sempre que está insatisfeito, revela uma grave vulnerabilidade à frustração”, diz a especialista. “É preciso desenvolver resiliência o quanto antes, ou você vai sofrer muito a cada vez que surgir uma contrariedade na sua vida, o que acontece com frequência”.
Mudar muito de emprego pode sabotar o futuro profissional do jovem. Uma recente pesquisa da revista Harvard Business Review identificou uma constante na carreira dos executivos que chegaram ao topo: tempo de casa.
Para conquistar o comando, o tempo médio de permanência na companhia foi de 15 a 23 anos, dependendo do gênero. Para José Augusto Figueiredo, presidente da consultoria LHH| DBM, é natural que as empresas prefiram líderes que transmitem estabilidade, uma imagem difícil de associar a quem troca o tempo todo de empregador.