Os indicadores demonstram que estamos vivendo de fato uma recuperação no comportamento do mercado, puxado pelo crescimento do consumo. No momento atual as estimativas indicam que o varejo poderá crescer em torno de 4% em 2018, depois dos 2% estimados para o fechamento de 2017.
São números importantes quando se comparam com o desempenho de 2015 e 2016 quando o setor involuiu 10,2% de forma consolidada.
Contribuem para essa melhoria do desempenho uma leve redução do índice de desemprego e uma pequena melhoria da renda que geram o aumento da massa salarial real que no fechamento de 2017 chegou a R$ 199,4 bilhões, com crescimento de 3,7% sobre o ano anterior.
Um dos elementos mais positivos de todo o cenário é a inflação baixa de 2,86%, sem dúvida, um dos pontos mais positivos do atual quadro.
Também contribui para o cenário geral uma melhoria na oferta de crédito ao consumo que, porém, permanece estruturalmente caro, escasso e seletivo. Isso acontece mesmo com a inadimplência geral de pessoas físicas dentro de seus patamares históricos, o que poderia ensejar uma maior oferta e uma maior redução de seu custo para as pessoas físicas.
Outro fator importante no quadro geral é a melhoria do nível de confiança do consumidor. Depois de seu menor índice da série histórica, em abril de 2016, à época do impeachment da presidente Dilma, tem uma linha constante de evolução positiva, mas ainda está muito distante dos seus melhores indicadores alcançados em meados de 2012.
Em se tratando de consumo e vendas do varejo, é um quadro positivo, com tendência a se manter assim por conta das ativações que ocorrerão ao longo do ano, incluindo Copa do Mundo e as eleições. Isso permitiria, de forma ambiciosa, quase inconsequente, estimar que possamos continuar crescendo nos próximos anos por conta de um cenário externo e interno mais positivo.
Na dimensão mais estrutural e estratégica, tivemos alguns avanços importantes com a modernização trabalhista, algumas medidas relevantes na gestão da coisa pública e no quadro político institucional, especialmente nos aspectos que envolvem apuração e condenação de figuras ligadas à corrupção.
Mas não podemos nos deixar envolver por essa situação, que se assemelha àquela do personagem que saltou do 15o andar e ao passar pelo 10o avaliou que até aquele ponto estava tudo bem.
Já nos iludimos muito na década de 70, com o Milagre Brasileiro, ou nos anos 2000, quando do Boom mais recente da economia. Em ambos os casos, vôos de galinha.
Continuamos nos afastando de economias mais abertas, modernas e competitivas por conta de questões estruturais mais sérias que não tem sido enfrentadas como deveriam. O recente episódio envolvendo a Reforma da Previdência é só mais um exemplo.
Da mesma forma como a imperiosa necessidade de uma profunda mudança em toda nossa estrutura tributária anacrônica, injusta e que onera de maneira absurda nossa competitividade em termos globais. Tanto quanto a Burocracia presente em quase que absolutamente tudo que envolve o setor público, com raras e honrosas exceções.
Para não falarmos no quadro caótico nas áreas de Segurança e Saúde, acumulados com o que seria necessário na Educação Pública.
E, só para fechar este ciclo, lembrar que somos um país com 39 partidos políticos,a absoluta maioria deles montados para sugar verba e recursos públicos sem propostas e ideologia consistentes.
Não podemos nos deixar envolver novamente pela sensação de alívio com a recuperação momentânea do consumo e da economia.
É um alívio passageiro e pontual para um doente terminal, caso não nos mantenhamos mobilizados e atuantes para continuarmos buscando uma transformação estrutural e definitiva, que assegure no longo prazo uma sociedade e uma economia mais justas, modernas e competitivas globalmente.
Quem tem um pouco mais de juízo e visão deveria manter-se inconformado com o Brasil que temos e teremos nos próximos anos, caso não possamos evoluir de forma mais ambiciosa em todos os aspectos mencionados.
Estamos nos distanciando de uma realidade vivida por economias mais maduras e modernas e nos limitando a sobreviver cada vez mais enclausurados em nossos microcosmos, cercados por pobreza, insegurança e corrupção. E sem projeto de país para o longo prazo.
Não vamos nos desmobilizar. Estamos muito distantes de um sonho possível.
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