O Brasil deve se tornar o maior mercado para o aplicativo de caronas BlaBlaCar já em 2024, desbancando a França, país de origem da plataforma. A projeção é baseada no crescimento visto por aqui. Nos seis primeiros meses de 2023, a atividade da empresa subiu 45% sobre o mesmo período do ano passado. A expectativa é que o ritmo se mantenha no segundo semestre e o total de passageiros chegue a 13 milhões. Com isso, a diferença em relação ao mercado francês encolheria para 2 milhões, abrindo espaço para a ultrapassagem no ano que vem.
No ano passado, o BlaBlaCar registrou receita de 197 milhões de euros, 100% a mais do que em 2021. A cifra não inclui a receita gerada no Brasil, que ainda é ínfima, já que o foco da plataforma tem sido crescer no País em número de usuários, segundo o CEO da plataforma, Nicolas Brusson, em entrevista exclusiva ao Broadcast(sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado). “Nesse tipo de mercado, é necessário ter paciência. Primeiro, crescimento e depois, receita”, afirma.
Contudo, o aplicativo aposta no potencial da operação brasileira, considerando o tamanho do território e do mercado de ônibus, assim como a situação do transporte público. Lançado no Brasil em 2015 e mais conhecido por intermediar caronas, a plataforma funciona também como um marketplace agregador de passagens de ônibus desde o fim de 2020. Nos seis primeiros meses de 2023, houve crescimento de 40% no número de viagens compartilhadas e de 140% no total de passagens de ônibus vendidas.
Brusson explica que, em mercados mais maduros, como o europeu, o BlaBlaCar já coleta comissões para o serviço de caronas. O que não ocorre em localidades como Brasil, México e Índia, que são cobradas taxas apenas em transações de ônibus. “Nesses casos, geramos praticamente zero receita ainda, enquanto esses países abrigam 40% dos nossos passageiros”, afirma. “Por isso, temos um potencial enorme de receita, já que os 197 milhões de euros atuais vem apenas de 60% da operação”, acrescenta.
Na América Latina, além do Brasil, a empresa também atua no México. A expansão para outros países da região está no radar. Contudo, não é um plano imediato. A ideia é começar a olhar para isso daqui a dois ou três anos.
Regulação e subsídios
Em relação ao cenário regulatório, o CEO diz ser natural que haja uma confusão inicial sobre como o BlaBlaCar se difere de outros aplicativos, como Uber e 99, por exemplo. Contudo, os reguladores têm entendido que, no caso da plataforma francesa, o foco são distâncias maiores, enquanto os motoristas não são profissionais e não lucram com as viagens, apenas compartilham custos.
Com isso, atualmente a empresa opera com base no Artigo 736 do Código Civil Brasileiro. O parágrafo único afirma que “não se subordina às normas do contrato de transporte o feito gratuitamente, por amizade ou cortesia”. Ainda assim, o BlaBlaCar tem trabalhado para desenvolver uma legislação específica para esse tipo de transporte.
A expectativa é que, com regras mais claras para as caronas, haja espaço para incentivos do governo, como já ocorre em países europeus. Na França e Espanha, o poder público oferece subsídio para motoristas que optam por esse tipo de transporte. “No longo prazo, a carona pode resolver grandes problemas de trânsito do ponto de vista ambiental e de mobilidade”, diz Brusson. Com a operação da companhia, 1,5 milhão de toneladas de CO2 deixaram de ser emitidos globalmente em 2023.
Como benefício, o executivo cita ainda o fato de muitas regiões do Brasil ainda terem o carro como único meio de transporte possível. A empresa calcula que cerca de 60% da demanda pelo aplicativo no País é em locais que só podem ser acessados por meio desse tipo de veículo.
Em relação ao serviço de passagens de ônibus, o BlaBlaCar não é impactado diretamente pelo imbróglio regulatório envolvendo empresas como a Buser, pois fornece apenas a plataforma de marketplace, sem operar viagens, de acordo com Brusson. O aplicativo trabalha apenas com operadores regulados. Hoje, são 200 empresas parceiras que oferecem passagens para mais de 18 mil rotas no Brasil.
Com informações de Estadão Conteúdo (Elisa Calmon)
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