Em maio de 2023, tive a oportunidade de palestrar na NRA Show, maior feira de foodservice das Américas, e parte do meu storytelling foi a importância do agronegócio e sua conexão com os demais elos da cadeia de foodservice nacional até que o produto chegue ao consumidor.
Sob o olhar da competência brasileira na produção agrícola, gostaria de encerrar o ano destacando o café, já que o Brasil é o maior produtor e exportador de café do mundo. Em 2023 deve atingir cerca de 54 milhões de sacas do grão beneficiado, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Além disso, é o segundo maior consumidor de café no mundo, atrás somente dos Estados Unidos.
O café é servido em todos os tipos de estabelecimentos, incluindo os non foods, porém, nesse artigo, gostaria de fazer um recorte a partir de um estudo recente da Data Driva, que identificou 30.336 estabelecimentos como cafeterias no Brasil, sendo que 39% são MEIs.
O conceito de cafeteria existe desde a década de 70 e dia a dia vem sendo aprimorado. Hoje o consumo anual de café premium no País é de 70 mil toneladas, o que reforça essa evolução.
A etapa de torrefação, antes feita em grande escala, tornou-se possível de ser realizada de forma descentralizada e em pequenas quantidades, o que imprimiu ainda mais valor ao processo, estimulando o consumo a partir dos aromas dispersados.
Para preparar o café com técnicas adequadas e extrair o melhor do grão, entregando uma ótima experiência ao cliente, na década de 90, a profissão de barista ganhou investimentos e tornou-se conhecida. Esse profissional assumiu o papel de embaixador de cafés de qualidade, mas, principalmente, de educador dos consumidores sobre as variedades de café e dos diferentes métodos de preparo.
Assim como ocorreu com a profissão de chef de cozinha, a profissão de barista ganha holofotes e surgiu um movimento de migração de funcionários para empreendedores, compondo a massa dos 39% de cafeterias registradas como MEIs, muitas delas autorais.
As redes de cafeterias nacionais e internacionais apresentam uma oferta robusta de itens complementares para assegurar a alavancagem de faturamento. Já os negócios liderados por empreendedores focam na bebida, na experiência e fazem a curadoria de produtos complementares. Além disso, seguem apresentando novas formas de consumo como drinks a base de café, café gelado, café extraído a frio e muito mais.
Em 2006, o café em cápsula chegou ao País e o potencial risco para cafeterias virou uma grande alavanca de crescimento, já que muitas pessoas que não tinham o hábito de consumo do café espresso, por exemplo, passaram a apreciá-lo gerando um crescimento de 20% em 6 anos.
No âmbito das operações comerciais, para além das cafeterias, há um desafio importante de mão de obra especializada. Então, as empresas de equipamentos buscaram alternativas de automatização, adicionando mais tecnologia aos equipamentos, mas, principalmente aos produtos.
Em 2012 o consumo interno atingiu 20 milhões de sacas e desde então não caiu. Atingiu o pico de 22 milhões e segue oscilando entre 20-22 milhões de saca, tornando-o um mercado consistente.
Mas, tomar café no Brasil deve ficar mais caro no curto prazo e ao logo dos próximos anos, pois a Euromonitor prevê grandes oportunidades de crescimento geradas pelo novo hábito de consumo na Ásia, Oriente Médio e África, novamente estimulando a exportação e, provavelmente, afetando a oferta de cafés gourmet para o mercado nacional a preços competitivos.
Te espero para um café em 2024!
Cristina Souza é CEO da Gouvêa Foodservice.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
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