Cada vez mais, tenho recebido solicitações de clientes para trabalharmos aspectos mais humanos e relacionais dentro das organizações. O desejo do líder atual é ter um time coeso, colaborativo, engajado e comprometido. Mas como alcançar essa meta em um cenário tão competitivo e volátil, fortemente impactado pela tecnologia e pela Inteligência Artificial? As relações humanas e os desafios que as envolvem têm sido cada vez mais o foco das empresas em todas as conversas. Não existe uma fórmula mágica. As empresas precisam encarar essa jornada alinhando algumas ações, com um propósito muito claro e relevante e com um time altamente alinhado a esse propósito.
Para ajudar as lideranças e os times de operações a navegarem melhor nas suas relações humanas, desde a forma de se comunicar até o estabelecimento de metas e objetivos para alcançar resultados de alta performance, desenvolvi o Ciclo da Tríade de Propósito, tendo o propósito como elemento central e condutor, que impulsiona o movimento e a integração cíclica entre três esferas: pessoal, profissional e empresarial. Essas três esferas têm entre si a mesma relevância para a composição de um propósito forte e interconectado. Segue uma representação gráfica para que possamos ter uma visão clara de como ela é formada.
O Ciclo da Tríade de Propósito é formado por três esferas que estão em constante movimento. Essas esferas estão conectadas aos âmbitos pessoal, profissional e empresarial. Veja como o propósito se movimenta em cada uma dessas esferas e como elas impactam rotinas e decisões no dia a dia de trabalho.
Propósito na esfera pessoal
É formado pelo sistema de valores e crenças que cada pessoa constrói ao longo da vida, com seu processo inicial ainda na primeira infância. Isso ajuda a formar o propósito de vida de cada um, que nem sempre é claro para a pessoa, sendo necessário uma jornada de autoconhecimento para descobri-lo. Somos fortemente impactados pelas verdades que construímos.
São eles que nos ajudam a distinguir o certo do errado, a tomar decisões com tranquilidade e segurança, e a acreditar que determinadas coisas vão dar certo ou não. Valores são mais profundos e difíceis de mudar, enquanto o sistema de crenças (que pode nos impulsionar ou nos limitar — e todos têm um mix das duas) é mais “facilmente” trabalhado e transformado.
Essas crenças, muitas vezes, são as que geram ruídos nas relações de trabalho, impactando, assim, a produtividade e os resultados. Sem ultrapassar limites e mantendo uma postura profissional, o gestor precisa trabalhar muito bem os aspectos de liderança, ao dar exemplo, melhorar comunicação e oferecer feedbacks assertivos para, aos poucos, ajudar no processo de ressignificação de crenças. Apesar de ser um aspecto de transformação que está nas mãos de cada um, precisa ser impulsionada por uma motivação intrínseca (interna, do indivíduo), sofre forte influência e é impactado indiretamente pela empresa.
Propósito na esfera profissional
Quando olhamos para o âmbito profissional, significa observar a trajetória e o desenvolvimento individual de cada membro da equipe e de si próprio (aqui o impacto da empresa é mais direto e intenso). Estabelecer metas e objetivos claros, associados a indicadores, é de extrema importância para esse desenvolvimento. Apesar de exigir grande dedicação do indivíduo e comprometimento com o seu próprio desenvolvimento, estamos falando de crescimento profissional, que deve ser acompanhado e apoiado pelo líder e pela empresa.
O papel do líder nesse processo é iluminar o caminho e conectar os propósitos da empresa aos de cada colaborador. A empresa precisa proporcionar conhecimento, ferramentas, direcionamento e informações adequadas para que esse trabalho seja desenvolvido com qualidade. Quando os valores dos colaboradores estão alinhados com os da empresa, estabelece-se uma cultura forte e saudável, e esse processo se torna mais fluido e natural.
Quando a contratação de colaboradores é realizada sem avaliar esses aspectos, esse processo será mais moroso e improdutivo, pois é preciso pensar não só no indivíduo, mas no coletivo e na comunidade que compõe o todo.
Propósito na esfera da empresa
A empresa precisa definir a estratégia do negócio e o caminho a ser percorrido para que os resultados sejam alcançados. Essas decisões, muitas vezes, são meramente financeiras, mas correm o risco de se perder ou não estarem claras se não estiverem alinhadas com o propósito da empresa.
Ao comunicar essas estratégias e definir os resultados esperados, a empresa deve sempre mostrar como as decisões que estão sendo tomadas se conectam ao propósito. Isso ajuda a fortalecer a cultura que se deseja construir e fomentar, evitando a contracultura (ações nocivas e paralelas que distorcem e impactam a cultura corporativa desejada, indo contra os valores da empresa). Quando esse trabalho é desenvolvido de forma apropriada, uma conexão moral é estabelecida com cada colaborador, fazendo com que todos tomem decisões e reflitam sobre seu desenvolvimento pessoal com maior clareza e comprometimento.
Quando bem trabalhado, o Ciclo da Tríade de Propósito se retroalimenta e gera um círculo virtuoso, com impactos extremamente positivos em todas as esferas de desenvolvimento.
No mercado de varejo e consumo, trabalhar o Ciclo da Tríade de Propósito torna-se fundamental para aumentar os níveis de pertencimento, empoderamento e amadurecimento profissional dos colaboradores, o que impacta diretamente na diminuição da rotatividade e na melhoria do desenvolvimento contínuo das equipes e da entrega de resultados.
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Roberta Andrade é diretora de Educação Corporativa e sócia da One Friedman
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo
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