A tematização de um restaurante transcende o alimento. Ela inclui treinamento diferenciado para o time de atendimento, playlist, iluminação, arquitetura e ambientação absolutamente envolventes, além de souvenires e uma riqueza de detalhes ligados ao tema que permitam aos fãs viajarem naquela ideia e, por que não, levar itens para casa.
Mas, qual é o público-alvo desse tipo de conceito? Imediatamente pensamos nas crianças e suas famílias, porém, eles têm atingido um público cada vez maior.
Fãs de games, livros, jogos de tabuleiro, séries, gênero musical, filmes, esportes e quadrinhos, de todas as idades, são seduzidos por vivenciar as experiências propostas por conceitos temáticos. No Brasil surgem unidades únicas como a Le Burguer, Taverna Medieval, Books & Beer, entre outras, e conceitos que passam a ser replicados em redes como Vassoura Quebrada, Hello Kit by EatAsia e Mundo Animal.
Pelo mundo, os Estados Unidos são famosos pelos restaurantes temáticos como os da Disney World (Cinderela, 50’s Prime Time Café, Sci-Fi Dine-In Theatre Restaurant), o bem-humorado Heart Attack Grill de Las Vegas, Hard Rock Cafe, entre tantos outros. Existem restaurantes temático em Dubai, Singapura, México, China, Japão, entre tantos outros países, mas quero destacar também um que fica em Taiwan e se chama The Modern Toilet – sim, os pratos são servidos em miniaturas de louças de banheiro e toda a decoração envolve o tema, bem estranho.
No Brasil, o consumo de alimentos preparados fora de casa representa 34% do orçamento familiar (dados Crest). Em países como Estados Unidos e Japão, esse número é superior a 50%, então, a busca pela atenção do cliente torna-se bastante acirrada.
Estimular o cliente a gastar mais torna-se um desafio quando ele facilmente pode comparar os produtos e serviços de uma cafeteria, bar ou restaurante tradicional com um outro ali da esquina.
Em um ambiente temático, essa referência é rompida. A proposta ali é divertida, instagramável e inesperada. No cardápio, os pratos têm nome de personagens ou são abstratos, não dá para comparar com outro local. Em nenhum lugar existe uma cerveja espumosa dos bruxos, por exemplo, como tem no Vassoura Quebrada.
E, claro, quando o cliente se diverte, se preocupa menos com preço e foca em valor percebido por ele ou pelo grupo que o está acompanhando. Existem modelos que são quase que parques que oferecem alimentação e outros que são alimentação com diversão. Tudo depende da concepção e da estrutura operacional projetada.
Os desafios de gestão desses modelos de negócios são os mesmos dos negócios de alimentação tradicionais. Porém, sobrevivem por mais tempo os que fazem isso com uma gestão altamente profissionalizada.
Como grande desvantagem, os espaços temáticos, especialmente no Brasil, têm a atenção dos clientes em dias especiais (comemorações) ou aos finais de semana, gerando ociosidade, que nem sempre é compensada com o ticket médio maior.
Outro ponto é o envelhecimento do conceito, seja pelo aparecimento de novos personagens, fatos ou elementos que captem a atenção do público, seja pela concorrência. Lembrando que isso pode ser relativo, especialmente, se bem trabalhadas estratégias alinhadas com os movimentos da indústria do entretenimento.
Positivamente a favor está o potencial de faturamento de um negócio temático comparado a um tradicional que é de 2,5 a 3 vezes maior. Se bem equilibrado com os investimentos para implantação, somado a um ótimo plano de marketing, o modelo se paga em tempo abreviado e permite o retorno aos investidores de forma saudável.
Assim, além de divertir clientes de todas as idades, os restaurantes temáticos podem ser um complemento interessante para o portfólio de muitas redes de alimentação. #ficaadica
Cristina Souza é CEO da Gouvêa Foodservice.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
Imagens: Shutterstock