Acabamos de voltar da NRA Show 2025, em Chicago, a maior e mais relevante feira de foodservice do mundo. Foram mais de 60 mil participantes, 2.300 expositores e 65 mil metros quadrados de pura inovação. Um encontro que reuniu operadores, especialistas e fornecedores de todos os cantos do planeta, com um único objetivo: desenhar o futuro do nosso setor.
E, para nós, do Estúdio Jacarandá, essa edição teve um significado ainda mais especial. Participamos não só como observadores atentos, mas também como expositores, representando não apenas o nosso trabalho, mas também o design e a inteligência brasileira no cenário global. Voltamos com a bagagem cheia de provocações, conexões e reflexões sobre os caminhos do mercado. Afinal, o Estúdio Jacarandá, que nasceu no Brasil e se tornou referência em retail design, agora cruza fronteiras e começa a fincar suas raízes no ecossistema norte-americano.
Esse é um movimento que nos enche de orgulho e reforça nossa crença de que o design de experiências, a inteligência aplicada aos espaços e a tecnologia, quando bem alinhadas, são fundamentais para construir negócios mais relevantes, eficientes e desejados.
Onde a automação faz sentido — e onde ela pode ser um problema
Se há uma certeza, é que a automação aplicada ao back of house, a retaguarda da operação, não tem mais volta. Cozinhas mais inteligentes, estoques monitorados em tempo real, desperdício praticamente zerado e produtividade elevada. Aqui, a tecnologia não só faz sentido, como é fundamental.
Por outro lado, quando olhamos para o front of house, ou seja, a relação direta com o consumidor, é preciso cuidado. Vimos muitas soluções pensadas para agilizar, mas que, na prática, podem tornar a jornada do cliente mais fria: apps que exigem longos cadastros, totens confusos, experiências 100% digitais e pouco humanas. No Brasil, especialmente, isso soa ainda mais delicado. Nossa cultura é feita de acolhimento, de conversa, de troca. A hospitalidade faz parte da nossa identidade.
Não somos contra a tecnologia na jornada do cliente. Ela é, sim, bem-vinda, mas desde que sirva para facilitar, e não para criar barreiras. Totens rápidos, pagamentos fluidos, cardápios digitais bem projetados, aplicativos que eliminam filas. Tudo isso agrega, desde que preserve o que nos torna únicos: a conexão humana.
Inteligência Artificial? Sim. Robôs? Ainda distante
Se a Inteligência Artificial se mostra extremamente aplicável no foodservice, principalmente para melhorar processos, reduzir erros e otimizar operações, o mesmo não se pode dizer da robótica, pelo menos no curto prazo.
O grande desafio, na verdade, não está nem no custo da IA, que já se tornou relativamente acessível, mas na nossa curva de aprendizado. É tudo muito novo para nós, brasileiros. O desafio está muito mais em entender as possibilidades do que no investimento em si.
Já quando falamos em robótica, a conversa muda. O investimento inicial é alto e, em um País em que boa parte dos empresários opera no limite, apostar pesado nessa frente ainda parece distante, mesmo que o payback exista no médio prazo.
Experiência: o bem mais precioso é o tempo
Outro ponto que ficou muito claro na feira — e que reflete uma tendência global no foodservice — é o quanto o consumidor valoriza a experiência, a facilidade e, acima de tudo, a economia de tempo. O tempo virou nosso bem mais escasso e, portanto, mais valioso.
Não dá mais para operar no modelo tradicional de simples compra e venda. É preciso entregar mais. Entregar agilidade, personalização e praticidade, sem abrir mão da proximidade, do acolhimento e da conexão.
Aliás, falando em personalização, algo que nos chamou muito a atenção foram as marcas que ofereciam algum tipo de customização, como a possibilidade de imprimir o nome do cliente no rótulo, por exemplo. Sempre tinham filas. Isso não é novidade, mas impressiona ver como essa demanda continua forte. Em um mundo tão padronizado e globalizado, o desejo de se sentir único segue mais vivo do que nunca.
O Brasil quer e vai avançar
O tamanho da delegação brasileira na NRA Show não deixa dúvidas: queremos, sim, avançar. Buscamos inspiração, inovação e evolução.
O Brasil, inclusive, foi o país que mais levou visitantes internacionais para o evento: mais de 700 inscritos, representando quase 18% de todos os estrangeiros.
Isso mostra uma vontade genuína de se atualizar, de se reinventar e de colocar o nosso foodservice em outro patamar.
No fim das contas…
A inteligência pode ser artificial. A automação é uma aliada. Mas a experiência precisa ser humana.
Que a tecnologia venha — e ela virá — para tornar nossos processos mais eficientes, nossas operações mais sustentáveis e nossas empresas mais competitivas. Mas que ela nunca nos faça esquecer que, no final do dia, as pessoas ainda escolhem um restaurante não apenas pela comida, mas pela experiência que vivem ali.
E isso, nenhuma máquina substitui.
Luciana Carvalho, sócia-proprietária do Estúdio Jacarandá.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
Imagem: Envato