Há tempos as pessoas sentem-se confusas sobre o que comer e em que quantidades. Ficar confinado em casa durante a pandemia gerou um turbilhão de comportamentos: cozinhar todos os dias, pedir delivery mais vezes, consumir mais fast food, preocupar-se com a origem dos alimentos (artesanais, orgânicos), comprar do entorno, assumir uma dieta vegetariana ou vegana, consumir refeições congeladas… um único tema e muitas possibilidades.
O fato é que as pessoas estão realmente muito cansadas com a estrutura que as residências assumiram (escola, escritório, bem estar, entretenimento). O prolongamento do cerceamento da sua liberdade, combinado às pressões por metas e resultados reimpostos pelas empresas para acelerar a retomada financeira, além do excesso de estímulos sobre o tema alimentação e das perdas de entes queridos pelo coronavírus têm deixado colaboradores em home office extenuados.
Levanto aqui a importância de as empresas oferecerem mais do que vouchers para atender seus times que seguem a jornada em suas casas. Quando no ambiente da empresa, os restaurantes corporativos são gerenciados por nutricionistas que seguem diretrizes como redução de sal, açúcar e gordura e oferecem diversificação diária em proteínas, vegetais e frutas. Em casa, os funcionários comem exclusivamente o que gostam e essas escolhas em curto e médio prazo cobrarão da saúde e resultarão no aumento da sinistralidade dos contratos de assistência médica – uma conta que certamente não é a desejada pelas empresas.
Mas quando o funcionário ia ao escritório e recebia o voucher, ele não consumia exclusivamente o que gostava e dessa forma cultivava maus hábitos alimentares? Talvez, mas ele tinha a vantagem de ser influenciado pelo grupo com o qual convivia. Geralmente, de segunda a quinta, as refeições concentravam-se em alternativas mais triviais e saudáveis, e às sextas-feiras ficava instituído o momento para fast food.
Em casa, os snacks, refrigerantes, cafés e guloseimas estão mais disponíveis. Além disso, a lista de alimentos preparados em casa como pães, sobremesas e bolos, ampliam as possibilidades de consumo exagerado. E, falando bem a verdade, chega um momento que é cansativo duelar com crianças e cônjuges sobra as escolhas, então a decisão mais fácil vence.
Cozinhar é um hábito extremamente saudável, gera convivência e cria momentos memoráveis, mas é bastante complexo manter uma rotina produtiva com pausas para preparação de alimentos.
Os gestores do benefício alimentação das empresas precisam de ajuda escalável e a um ótimo custo para orientar seus colaboradores a fazerem boas escolhas.
A telemedicina cresceu a passos largos durante a pandemia e deve continuar mesmo após o advento da vacina. Aplicativos para contar as calorias consumidas já existem, mas fazem sentido no atual contexto? Me parece que as pessoas não precisam de mais pressão. Elas precisam de ajuda para construir um plano alimentar para a família, listas de compras, receitas, sinalização de calorias e informações nutricionais que permitam rápida decisão na escolha de delivery e um pool de fornecedores recomendados pela empresa. Parte dessas iniciativas já existe, mas todas estaques e desintegradas.
Ano a ano, o Brasil piora seus indicadores nutricionais. Segundo o IBGE, já somos mais de 95 milhões de brasileiros com excesso de peso, seja sobrepeso, seja obesidade. Esses números impulsionam o crescimento de doenças crônico-degenerativas (diabetes, hipertensão, doenças coronarianas, alguns tipos de câncer, etc.) e, durante a pandemia, pessoas com esse perfil nutricional foram ainda mais afetadas pelo coronavírus em termos de mortalidade.
A telenutrição seria uma nova aposta? Parece que sim!
Convoco aqui foodtechs e nutritechs a se organizarem rapidamente para apresentar caminhos e soluções para esse problema.
Cristina Souza é CEO da Gouvêa Foodservice.
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