O setor de alimentação fora do lar, também chamado de foodservice, foi um dos mais impactados pela pandemia e está demonstrando grande resiliência e capacidade de adaptação nesse período.
A pandemia também trouxe luz e intensificou características e fenômenos que já observávamos no segmento, mas que ainda não tinham sido mensurados. Através do IFB (Instituto Foodservice Brasil), fizemos um amplo e profundo mapeamento das tipologias e perfil dos restaurantes em todo o Brasil.
Carência de dados
Até agora, o único dado disponível nesse sentido eram os dados da Refeita Federal que mostram o número de CNPJs ativos por CNAE (Classificação Nacional de Atividades Econômicas), porém, esse número é impreciso e superficial.
No Brasil, temos uma enorme quantidade de estabelecimentos que fecham suas portas e não dão a baixa do seu CNPJ. Muitos outros operam restaurantes usando CNPJs cadastrados em CNAES errados.
Além disso, o dado da Receita Federal não permite a análise da tipologia deles, sendo que tipologia é o tipo do restaurante: japonês, churrascaria, comida regional etc. Dados esses imprescindíveis para o correto mapeamento, entendimento e desenvolvimento do mercado.
Raio X do foodservice
O que foi feito nesse projeto inovador do IFB foi levantar, higienizar e cruzar informações de diversas fontes de dados públicas através de robôs crawlers (softwares que capturam dados digitais de forma sistemática) e aplicar inteligência e algoritmos para análises desses dados, permitindo assim um verdadeiro raio X do setor.
Divido agora com vocês uma pequena parcela do que foi descoberto até agora.
A primeira pergunta que nos fazem é sempre a mesma: qual o número de restaurantes no Brasil? Pois bem, dos 1,459 milhão de CNPJS de foodservice ativos no nosso País, conseguimos verificar através desse projeto que 736 mil deles realmente estão abertos e operando.
Evidentemente que, dada a natureza das fontes utilizadas, esse número não é exaustivo e a quantidade efetiva deve ser um pouco maior, mas já é um excelente balizador para as nossas análises.
Entretanto, ainda chama a nossa atenção que um estudo feito pela NPD no mercado norte-americano aponta a existência de 1 milhão de restaurantes nos Estados Unidos, porém operando em um mercado 15 vezes maior que o nosso em faturamento.
Essa disparidade de dados indica para uma das maiores características do nosso mercado, a forte presença de operadores independentes, pequenos e, por vezes, informais.
O dado de pessoas empregadas pelo setor também evidência essa característica, enquanto os restaurantes norte-americanos empregam cerca de 15 milhões de pessoas, o setor no Brasil emprega cerca de 1,5 milhão de pessoas.
O projeto mostrou também que dos 736 mil estabelecimentos verificados, 473 mil são classificados com MEI, ou melhor, 64% das operações de foodservice no Brasil são compostas por empreendedores individuais, sem nenhum funcionário registrado e que faturam até R$ 81 mil no ano.
Dos outros 263 mil que não são MEIs, apenas 70 mil (9% do total) não estão enquadrados no Simples, demonstrando que são estabelecimento de maior porte e com faturamento acima de R$ 4,8 milhões no ano.
A altíssima taxa de fechamento e de aberturas do setor é impressionante. O forte impacto da pandemia forçando o fechamento dos restaurantes, a baixa profissionalização e o uso do setor como válvula de escape para o empreendedorismo individual fizeram com que do total de 736 mil restaurantes verificados em operação, 56% deles abriram nos últimos 3 anos.
Alinhado com a forte tendência de crescimento das plataformas de delivery, os tipos de restaurantes que mais abriram nesse período de 3 anos foram o de lanches/hamburguer com 24% de participação, seguidos por bares com 13%, docerias com 5%, açaí com 5% e pizza representando 4% do total.
Futuro do setor
Com a expressiva melhoria do emprego e com o iminente arrefecimento da inflação, a expectativa é que o setor tenha terreno mais fértil para seu crescimento no decorrer do ano de 2022 e 2023, com maior renda discricionária as famílias brasileiras tendem a elevar seu consumo em serviços e entretenimento e redirecionar seus gastos também para o setor de foodservice.
Eduardo Yamashita é COO da Gouvêa Ecosystem
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