No momento atual, uma das poucas certezas possíveis é a de que vivemos tempos voláteis dominados pelas incertezas. De toda ordem.
No plano político, pelos inúmeros fatores derivados de mudanças relevantes no cenário internacional que levaram à eleição do presidente Trump nos Estados Unidos, ao Brexit na Inglaterra, aos conflitos étnicos e religiosos no Oriente Médio e que, no curto prazo, podem ainda gerar outras surpresas envolvendo esse crescente processo de reversão da globalização e repensar do papel do Estado.
No cenário econômico, aparentemente estável em seus fundamentos, as transformações se precipitam como um tsunami geradas pelas mudanças determinadas pela tecnologia que faz, ao mesmo tempo, desaparecer negócios, marcas e atividades com muitos anos de História, assim como faz brotar, de repente, não mais que de repente, fenômenos globais como Google, Facebook, Waze, Uber, Snapchat, WhatsApp e inúmeros outros, redesenhando todo o ambiente.
No plano comportamental, a ascenção da geração Millenial e sua sucessora, a geração Z, nascidas multitela e permanentemente interconectadas e interativas, desenha um profundo processo de transformação que se amplia à medida que esses segmentos se tornam mais representativos no conjunto da população. Porém, com uma míriade de segmentos, sub-segmentos, clusters e nichos comportamentais. Mas, acima de tudo, com uma explosiva demanda por individualidade e personalização no reconhecimento, tratamento e relacionamento.
De forma significativa vivemos mudanças dramáticas em tudo como, hoje, conhecemos. Numa velocidade, intensidade e profundidade que exigem repensar constante e aberto para assimilar e incorporar o que for possível desse processo. Sem o que, a alternativa é o isolamento e o distanciamento, quase psicótico, pretensamente reconfortantes.
Parte desse cenário foi antecipado pelo sociólogo polonês recém-falecido, Zygmunt Bauman, em suas clássicas obras envolvendo os conceitos de Modernidade e Economia Líquidas.
Sua visão e propostas anteciparam um pouco do que hoje vivemos e tudo é ainda um processo em profunda transformação.
Agora é volátil
No cenário atual, até mesmo as visões de Economia ou Modernidade Líquidas, propostas há mais de cinquenta anos, deveriam, necessariamente, serem atualizadas para Economia e Modernidade Voláteis.
Esse profundo processo revolucionariamente evolutivo demanda novas atitudes e estilos de liderança no mundo dos negócios balizados pela transformação dinâmica, fluída e, principalmente, volátil, que se cria e recria a cada momento, onde a própria realidade pode ser vista e interpretada de formas e maneiras diversas. Tal qual o efeito de um caleidoscópio que a cada leve movimento mostra combinação de formas e cores diferentes do momento anterior.
A própria ideia de liderança já é um conceito passível de discussão colocando em perspectiva a possibilidade de falarmos da proposta clássica de liderança em tempos onde moderação, coordenação, ativação, motivação, visão, propósito, inspiração, integração, co-work, coach e outros conceitos de crescente importância se sobrepõem à concepção da visão monolítica de liderança, como a conhecíamos.
A visão de que não se pode ter um único estilo de liderança aplicável a todos de um grupo, que ensejou o conceito de Liderança Situacional, parece ser um dos poucos conceitos que se sustentam nesse novo cenário. Porém, potencializado pelo desafio de uma ampliação das alternativas de comportamentos dos grupos e sub-grupos e, principalmente, indíviduos, pelas mudanças rápidas de atitudes e expectativas, ensejando muito mais atenção e sensibilidade para perceber tais processos.
A busca dos modelos mais adequados de liderança em tempos de modernidade, mais do que líquida, volátil, desafia todos aqueles que se propõem a atuar em busca de melhores resultados, na amplitude que o conceito permite, e seja lá no que for.
Nota: Na próxima semana, voltaremos ao tema, com a segunda parte deste artigo.