Jornada de trabalho reduzida: quando a tendência vai chegar ao Brasil?

A adoção de um dia a mais de final de semana já é realidade em diversos países

Jornada de trabalho reduzida: quando a tendência vai chegar ao Brasil?

Imaginem um cenário no qual o domingo perde o sentido de último dia de descanso do final de semana. Isso porque, depois do domingo, há outro domingo. Ou uma situação em que a quarta-feira deixa ser aquele dia do meio da semana e se transforma em uma quinta-feira, com aquele clima da semana chegando ao final. Isso já é realidade em algumas empresas do mundo, que estão diminuindo a carga horária de trabalho de 40 para 32 horas semanais.

Desde o início da pandemia de covid-19, o modelo de trabalho tradicional teve de ser repensado e transformado. O número de desligamentos voluntários cresceu de forma nunca vista e esse movimento foi denominado de Grande Renúncia, do inglês Great Resignation. Depois de passar meses trabalhando de casa durante a quarentena com sucesso – com dificuldades, claro, mas com êxito -, os funcionários, agora, exigem mais das empresas em que trabalham.

A quarentena fez com que os trabalhadores tivessem mais tempo para pensar sobre seus planos de carreira, além de ter possibilitado a mudança de perspectiva de vários aspectos das suas vidas. Um exemplo disso é a importância de um núcleo de assistência nas organizações, uma vez que o cuidado com o bem-estar e com a saúde mental dos funcionários é um tópico determinante na decisão de continuar ou não no mesmo emprego.

Seguindo a ideia da saúde mental, que acaba sendo a base principal das escolhas dos trabalhadores, o modelo de trabalho precisou passar por transformações. O home office, por exemplo, não é mais novidade, mas continua sendo uma questão importante. Grande parte dos funcionários se sente mais confortável com modelos híbridos. Sem a necessidade de trabalhar presencialmente, há menos custo e mais tempo para organizar questões pessoais. A novidade, de fato, está na mudança da jornada de trabalho.

Desde o início deste ano, empresas de diversos países começaram a aplicar testes de diminuição na jornada de trabalho. Milhares de trabalhadores estão cumprindo 80% da jornada original enquanto recebem 100% do salário. Como é uma situação nova, não há como saber os impactos da mudança a longo prazo, mas, até agora, foi possível observar um aumento na produtividade e na saúde mental dos funcionários.

Países como Estados Unidos, Japão e Espanha já estão aplicando a carga horária reduzida. O acompanhamento revela que os trabalhadores ficaram mais felizes e menos estressados com a mudança. Além disso, um dia a menos de trabalho por semana diminui a sobrecarga do planeta, ou seja, a quantidade de recursos que são produzidos por dia. Ao diminuir o consumo de energia elétrica e o uso de meios de transporte, a porcentagem de emissão de carbono também pode cair.

No Brasil, o entendimento sobre a jornada de trabalho reduzida ainda não foi tão disseminado quanto nos países citados acima. A tendência foi adotada por algumas empresas, como a Zee.Dog, e-commerce de produtos para cachorros, e a Crawly, startup especializada em análise de dados. O maior desafio da gestão ao implementar um dia a mais de folga é estabelecer um equilíbrio entre cobrança e produtividade. As instituições que adotaram a jornada reduzida perceberam um aumento de produtividade no dia a dia, porém as entregas não conseguem ser as mesmas com 8 horas de trabalho a menos. Por isso, também é preciso mudar a organização e a quantidade de entregas exigidas.

Outra questão a ser pensada é saber o que fazer e como se sentir com um dia a mais de folga. Pode parecer bobagem, afinal ficar em casa é mais fácil e demanda menos esforço do que sair para trabalhar, mas vivemos em uma sociedade na qual somos cobrados e precisamos ter a confirmação de que estamos sendo úteis. No começo, o sentimento pode ser de que é mais fácil trabalhar do que encarar um ócio com diversas oportunidades de coisas para fazer – inclusive nada.

Por enquanto, é esperado que o domingo continue sendo domingo no Brasil. Na prática, há uma tendência objetiva de que esse modelo comece a ser aplicado no país, mas esse movimento ainda é pequeno, pelo menos por enquanto. Com o cenário externo, no entanto, a velocidade dessa mudança de paradigma pode ser aumentada. Cabe esperarmos os próximos dias, úteis ou dos finais de semana, para confirmar se esse caminho vai ficar no campo da tendência ou se a maioria das empresas vai conseguir aplicá-lo na prática, mantendo ou aumentando seus resultados financeiros.

Renata von Anckën​ é VP de Marketing & Sales​ da Truppe!
Imagem: Shutterstock

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