O cenário se mostra cada vez mais competitivo e isso tem a ver com a transformação digital precipitada pela tecnologia, potencializada e acelerada pela pandemia. O caminho para avançar mais rápido e de forma mais segura, como nunca antes, passa pelo compartilhar. Que assume as mais diferentes e inovadoras formas, tudo convergindo para desenvolver alternativas que assegurem espaço privilegiado no mercado reconfigurado.
Os marketplaces são talvez alguns dos mais relevantes exemplos de empresas com tráfego no e-commerce que se abrem, estimulam e reveem seu modelo para abrigar outras marcas e negócios, até mesmo concorrentes. Amazon foi o benchmark no mercado global, seguido por Mercado Livre na América Latina, e hoje quem pode também opera marketplaces. Cada um com suas particularidades. Magalu, Americanas e muitos mais transformaram seus projetos iniciais e veem nesse caminho sua ascensão aos Ecossistemas de Negócios, próximo destino de quem quer mudar de categoria no jogo da relevância dos players globais.
Mas também há muitas outras formas que sinalizam a importância de mudar a forma de pensar.
Grupo Pão de Açúcar e RD – Raia Drogasil desenvolveram seu programa de fidelidade Stix, lançado no final de 2019, de forma integrada, para diferenciar e oferecer benefícios aos clientes de ambas as empresas. E, mais importante: para conhecer, monitorar e poder antecipar movimentos de seus clientes, protegidos pela Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), segmentando e clusterizando comportamentos. E abrindo oportunidades para outros negócios convergentes. A própria RD – Raia Drogasil abriu espaço em suas lojas para que a Natura colocasse seus produtos, criando um novo canal para a empresa para além das vendas diretas, e-commerce e lojas próprias.
Da mesma forma, mais recentemente Magalu esteve presente em operações do Carrefour e agora desenvolveu parceria estratégica com a Marisa. Nas lojas, podem ser encontradas alternativas para que os clientes da Marisa – focada em moda – possam ter acesso aos produtos oferecidos por Magalu, no físico e no virtual. A própria Marisa também está presente no Mercado Livre, por exemplo. Ou seja, o importante é estar acessível quando, como e onde o cliente preferir. E compartilhar para inovar e se tornar mais relevante.
De forma mais abrangente, a necessidade cria oportunidade.
Quando avança o inevitável e irreversível acirramento concorrencial, um dos caminhos estratégicos para crescer em relevância e participação de mercado é buscar combinar alternativas, mesmo entre concorrentes diretos e indiretos. Ao mesmo tempo que, quando possível, se avança também na integração vertical, como fazem as marcas que criam canais e lojas exclusivas da marca.
Mas até nesse caso o compartilhar também é opção, pois na maioria dos casos essa operação é feita por meio de franqueados ou licenciados, permitindo que o conceito se expanda mais rapidamente e com empreendedores individuais integrados no processo.
Ainda existe a situação como a da Ambev, em que todo o negócio de desenvolvimento, implantação e gestão da rede exclusiva por meio de franqueados ou licenciados também é coordenada por um terceiro.
Pensar diferente e de forma abrangente
Na essência desses modelos, para ficar só no âmbito nacional, está a realidade irreversível que é preciso crescer rápido e de forma consistente para ganhar e manter relevância. Mesmo para as maiores e mais estruturadas organizações empresariais, por maior poder de fogo que tenham, compartilhar e integrar é uma opção que se torna cada vez mais importante.
Isso pressupõe a análise contínua e cada vez mais abrangente de alternativas e o desenvolvimento de uma cultura empresarial distinta do passado na linha de “o segredo é a alma do negócio”.
Já faz tempo que o maior segredo é a capacidade de mudar rápido, pensar de forma integrada e ter a ambição de ser mais relevante juntando competências, recursos e visões.
Marcos Gouvêa de Souza é fundador e diretor-geral da Gouvêa Ecosystem.
Imagem: Arte/Mercado&Consumo